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Me fez sentir....(Beau tem Medo)


Leos Carax e Holy Motors. Criador e Criatura. O ano foi 2021, (Holy Motors é de 2012, mas só descobri recentemente. Antes tarde, do que nunca), quando fiquei totalmente imersa no turbilhão de sensações que Carax me proporcionou. Se você me perguntar algo da trama e dos personagens, a única resposta que ainda tenho é: não tenho.

Paula, tá tudo bem? Não sei. Só sei que não consegui ficar indiferente com a jornada de Beau tem Medo. Explicar sensações é um tanto quanto complexo e pessoal. Cada um vai sentir a obra de Ari Aster de uma maneira única.  


Na trama, Beau é um homem, na mente de uma criança,  que delira e sente traumas provocados por ataques de ansiedade e pânico. O que Beau sente é a ausência paterna e sufocamento materno. Joaquin Phoenix nos faz um convite para acompanhá-lo na jornada do pequeno grande Beau. O corpo do ator treme, o olhar é paralizante e a voz é de uma criança desamparada em busca do autoconhecimento. É de uma entrega sem limites. Não é à toa que Ari explora ao máximo o close nas nuances apresentadas pelo ator. Se o espectador consegue ao menos sentir é por culpa da atuação de Phoenix. Faço essa colocação pelo fato de o ator apresentar diversas formas de lidar ou tentar lidar com a culpa materna.

Ari Aster nos apresenta uma viagem psicodélica e caótica  que nem ele possui o controle. Talvez no segundo ato, o diretor compreenda que Beau esteja totalmente entregue as doses cavalares de remédios, baseado e alguma bebida estranha que o protagonista toma e provoque uma quebra no ritmo da narrativa. Após diversos devaneios e reflexões, o diretor deixa de dopar o protagonista e o filme perde o brilho ao ser racional. A realidade de Beau é o verdadeiro confronto com a mãe. O desfecho extendido quebra a conexão de Beau com o espectador que não sabe muito bem o que viu. Sabe mais ou menos o que sentiu. 

Assim como em 2021, dificilmente irei esquecer a experiência que Carax me proporcionou. Ari também entra na lista, com total perda do fio narrativo que liga o arco dos personagens na jornada do protagonista, mas assim como Carax, me fez sentir...


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