Após assistir ao excelente Lamb, alguns devaneios tomaram boa parte do meu tempo. Escutava uma música, escrevia críticas, dançava feito louca (faço isso sempre e você deveria tentar também porque faz um bem danado pra alma) e a criança não saía da minha cabeça. Para realmente seguir em frente, eu teria que responder uma pergunta: até que ponto nos envolvemos por completo na autoria de um diretor(a)? Com Lamb, eu tive uma luz certeira para essa indagação: é preciso que tudo esteja em ordem, ou melhor, que o caos criativo seja coerente com o que é proposto logo no começo. O roteiro foca no luto, uma maneira inovadora de ressaltar a temática já explorada constantemente no cinema. Eu queria e precisava saber onde o filme iria me levar. Ser conduzida pela narrativa como um todo é fascinante, e, depois de final, não tive dúvidas: Lamb era sobre luto, mas acima de tudo sobre pertencimento em meio ao caos criativo.
Recentemente tive a oportunidade de escolher um filme extremamente aleatório, que me fez refletir sobre a mesma questão, só que aqui o incômodo foi tamanho, que a cada cena que o personagem surgia eu me distanciava por completo da narrativa. O que aconteceu comigo durante o filme? O personagem repetia a mesma frase, porém, não havia um arco desenvolvido. Claro, o foco nunca foi ele, o estudo de personagem é da protagonista. Aliás, foi por conta da atriz que me interessei pelo projeto. Conforme os atos passavam a sensação de estranhamento era gritante. O estranho me fascina também, David Lynch manda lembranças, o problema é que o caos não estava coerente. Coadjuvantes deslocados e um excelente ator que repetia como mantra a mesma frase, até que perto do desfecho... O filme me atormentou por um bom tempo. Sabe quando você fica catatônica sem saber o real motivo para o tal desfecho chocante repleto de gore? Não vejo problema algum no Gore, a questão foi a falta de coerência e um Ego enorme do diretor em querer gritar pelos quatro ventos o quanto ele foi criativo. O filme não precisava fazer sentido, por falar nisso, Holy Motors é um dos filmes mais estranhos e envolventes que já assisti. A questão é que se você está no começo de carreira, na luta por espaço, o reconhecimento autoral só vem com o tempo. Alguns diretores conseguem tamanha proeza, como Robert Reggers, por enquanto, quando você ainda está lutando por espaço, a coerência é o motor primordial de ligação entre o diretor(a) e o espectador. O tal filme ainda continua na minha cabeça. Que final foi aquele ? Ele queria realmente "mostrar" que era competente o suficiente ao chocar o espectador? Logo recordei de O Exorcista, que me causava arrepios somente quando a câmera focava na porta do quarto da protagonista. Todo o cuidado com a atmosfera para que o terror ganhasse força nas cenas mais intensas, sim, era sopa de ervilha, mas e daí? Caro diretor(a), você pode e deve ser criativo, nós agradecemos quando algo inovador nos envolve por completo, mas tente ao menos ser coerente e não se precipite: a força de uma imagem pode estragar o que teria tudo para dar certo. E, sim, eu ainda penso naquela criança deslocada de Lamb. Ela ainda vai me acompanhar por um bom tempo.
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