Certos diretores provocam tantas inquietações que durante boa parte o filme o espectador reflete: " Que diabos estou assistindo?", "Lá vem um monólogo digno de atenção, daqueles que se você piscar perde algum detalhe importante para a narrativa como um todo!", "Que cena imersiva!". A direção de Robert Eggers me causa tamanha reflexão que por diversas vezes preciso voltar para o filme. Como assim? Explico: Existe tanto domínio e perfeccionismo nos filmes do diretor, que a técnica ao mesmo tempo que é provocativa, me causa estranheza. Não seria diferente com O Homem do Norte.
O filme Eggers parte de uma premissa simples envolvendo vingança. O príncipe Amlet observa com tamanho desespero à morte do pai pelos mãos do tio. O Rei Leão manda lembranças. O menino cresce alimentado pelo ódio. Como escravo, o protagonista retorna e provoca um realista banho de sangue. Já vimos esse roteiro antes e sabemos como termina. Será? Pelas mãos de Eggers, tudo fica tão intenso que ganha aspectos diferenciados dignos de reflexões, filosofia e rituais nórdicos.
O diretor exige a teatralidade dos atores que entregam personagens complexos e ambíguos. A intensidade é tamanha que em várias cenas fui retirada da imersão com a mesma brutalidade que Alexander Skargard utiliza o diafragma. A ambiguidade também é quebrada de forma tão abrupta que não existe tempo para que o espectador crie um laço de empatia pela reviravolta do protagonista. O ritmo é cadenciado para absorvermos os capítulos, porém, nos últimos, não apresentam o fechamento dos arcos dos personagens com a mesma intensidade.
O Homem do Norte é uma narrativa que nos tira o chão ao mesmo tempo que nos afasta pelo excesso dos elementos narrativos. Acredito que a magia do cinema é completa quando nos toca de alguma forma. Eggers continua sendo uma incógnita para mim. Sigo sentindo imersão ao mesmo tempo que me afasto de cada filme do diretor. Sou crítica e escrevo o que sinto. Robert e EU: uma dupla que ainda tem um longo caminho pela frente.
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