Will avalia candidatos para um experimento inusitado: o escolhido terá a oportunidade de viver. Sentir o lado ruim e bom do ser humano. Os candidatos passam por etapas com questionamentos que os fazem refletir sobre situações extremas. Dependendo do comportamento o candidato é eliminado por Will. Os eliminados ganham um momento breve sobre algo que mais gostaram de vivenciar durante o experimento. Apesar de saber que somente um será escolhido o que importa dentro do roteiro são as jornadas de cada personagem e os questionamentos levantados. Will também se vê obcecado por Amanda, uma jovem que ele acompanha por fitas cassetes e que sofre um acidente de carro. O protagonista tenta compreender as motivações que a levaram a se acidentar. Perceber que houve uma falha o faz refletir sobre si mesmo.
O roteiro de Edson Oda toca em temáticas delicadas e faz o espectador mergulhar em questionamentos sobre cada coadjuvante que participa do experimento. Existem momentos sácidos presentes em Alexander, a intensidade da experiência vivida por Mike, a estratégia de sobrevivência de Kane e a "humanidade" de Emma. Cada arco envolve o espectador pelos conflitos internos apresentados nos coadjuvantes. Se os coadjuvantes causam estranheza ao mesmo tempo que provocam reflexão em diversos momentos, a obsessão presente no arco de Will provoca distanciamento no espectador. O arco do protagonista é explorado aos poucos muito pela introspecção do personagem, porém os conflitos são explorados de forma repetitiva, Will sempre observa a fita cassete para refletir sobre o auto conhecimento de estar vivo. Sim, Will é o único na trama que foi candidato e consegue viver e sentir como ser humano. A única pessoa que sente é a que faz questão de reprimir os sentimentos por conta do sofrimento vivido e por ser sensível demais. Já Kyo é o coadjuvante que proporciona leveza para a trama e percebe que Emma pode ser uma futura candidata ao prêmio tão cobiçado pelos demais. Ela é a coadjuvante que provoca questionamentos em Will e também faz os demais observarem breves momentos positivos sobre o ser humano.
Will interpretado por Winston Duke apresenta um protagonista imerso em sentimentos reprimidos por ter sofrido demais na pele de um ser humano. O protagonista é puro rancor, porém com a ajuda de Emma, a sensibilidade surge em momentos pontuais. A interpretação de Duke pode afastar o espectador que deseja saber mais sobre as camadas e conflitos do protagonista consequência direta de tamanha repressão dos sentimentos de Will. No lado oposto temos Zazie Beetz que não compreende o que é ser humana, mas que sente e exerce a empatia em um momento que poderia ser só seu. Os questionamentos da coadjuvante auxiliam na imersão do espectador como também intensificam uma abertura para os sentimentos de Will. A atriz empresta indignação e resiliência de forma minimalista para a construção de Emma. Ela é a que mais sente sem saber o que realmente está acontecendo.
Com poucos recursos e um roteiro intenso, Edson Oda faz o espectador participar de cada etapa do experimento como se fossemos um candidato que almeja viver. Nos colocamos no lugar de cada um dos personagens, pois sentimos as angústias e alegrias em momentos específicos na anrrativa. Sentimos o prazer de tocar a areia da praia com os pés, o vento no rosto ao andar de bicicleta, a revolta ao ser manipulado, a alegria de rir de uma piada e o prazer de simplesmente sentir o que estava adormecido. Nove Vidas é uma narrativa complexa que necessita de atores competentes e de um texto bem amarrado. Existe um estranhamento no começo em queremos saber quais são as intensões de Will com o experimento. É a necessidade do ser humano em obter respostas imediatas para angústias internas, sendo que o verdadeiro objetivo do longa são as provocações que temos no meio do caminho ao acompanhar os personagens. O que verdadeiramente importa é a jornada de cada um que no decorrer o experimento já vivenciava o sentir do ser humano. Somente um é o vencedor, porém todos sentiram o prazer e as amarguras do que é ser humano.
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