Convidado de Honra foca em Jim, um inspetor de alimentos, que vive atormentado pela atitude drástica da filha Veronica, uma professora de música, presa por assédio sexual. Enquanto o roteiro explora a personalidade metódica de Jim em cada inspeção, em paralelo, com o auxílio de flashbacks, o espectador conhece o passado traumático de Veronica. O pai tenta provar a inocência da filha, ao mesmo tempo que ela afirma ser culpada. O roteiro fica extremamente confuso para o espectador, pois o recurso de flashback ao invés de oritentá-lo acaba prejudicando a narrativa. Veronica está em liberdade e precisa organizar o funeral do pai. Ao conversar com o padre Greg sobre os preparativos, o passado de pai e filha vem à tona. Entre um diálogo e outro o espectador observa como a mente de uma criança pode imaginar alguns fatos podendo transmitir a sensação de conveniência nas ações dos personagens. Toda a subtrama de Lenny é de fundamental importância, porém é explorada de forma apressada justamente pelo recurso equivocado do flashback. Assim o roteiro segue sem dar o devido valor para alguns personagens.
Ao utilizar o flashback para explorar o arco de Veronica, o roteiro não prejudica somente todo o desenvolvimento da personagem como também intensifica negativamente na montagem. As conversas com Greg e o vai e vem do passado e presente tornam os núcleos ainda mais caóticos para o espectador tentar ligar os eventos que motivaram as ações dos personagens. A justificativa para que Veronica aceite a culpa pelo seus atos é fraca e não se sustenta. A omissão com relação a Lenny faz com que ela queira se punir aceitando a culpa livrando os jovens de toda a responsabilidade, uma reação em cadeia que torna as motivações cada vez mais fracas. Outro aspecto que a montagem ao invés de intensificar a atmosfera de tensão acaba prejudicando é quando o arco de Jim se entrelaça com o da filha. É necessário todo um desenvolvimento maior para a imaginação de Veronica quando pequena, com o recurso dos flashbacks desconstruir toda a percepção da personagem provocando constantes quebras de ritmo na narrativa. Dessa forma o espectador não se envolve com o arco da filha respingando constantemente no arco do pai.
As atuações são desequilibradas e também prejudicam a narrativa. David Thewlis é competente e consegue prender o espectador nas ações do protagonista. Existe uma melancolia pela morte da esposa e prisão da filha. A personalidade metódica proporciona ao longa momentos cômicos. Vale destacar a cena em que Jim acaba se transformando no Convidado de Honra, nela o ator mantém a aura de Jim, porém evidencia uma abertura e sensibilidade pouco exploradas no decorrer do longa. Laysla de Oliveira é vítima do roteiro que leva a personagem para vários rumos sem desenvolvê-los de forma apropriada. Mas vale ressaltar que a atriz em momentos mais dramáticos prefere manter uma postura mais defensiva ausente de muitos sentimentos afastando o espectador.
A direção de Atom Egoyan explora ao máximo a mise-en-scène dos atores destacando a tensão entre pai e filha. A atriz mirim está sempre posicionada no canto do plano, para reforçar a culpa da filha quando adulta. O mesmo acontece com Jim ao criar uma atmosfera tensa e melancólica para o personagem. A câmera segue acompanhando o protagonista nas inspeções proporcionando ritmo ao longa. Convidado de Honra se perde no roteiro ao intensificar flashbacks para as ações do passado dos personagens e apressa situações significativas para os personagens. O excesso de subtramas enfraquece o potencial da relação entre pai e filha. Tudo fica no meio do caminho sem provocar maiores envolvimentos no espectador.
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