Quando assiti ao filme Dirty Dancing pela primeira vez eu era pura empolgação única e exclusivamente pela trilha sonora. O longa possui um trilha certeira que embala o romance dos protagonistas. O elemento narrativo é focado em três vertentes: o núcleo de dança onde os funcionários do resort ficam depois de trabalharam durante o dia, outra para embalar o romance do casal de protagonista e uma trilha especialmente selecionada para os conflitos dos coadjuvantes com Baby. Músicas que marcaram a década de 1980 e que impulsionaram o público para conferir a narrativa. Músicas como Time of My Life, Be My Baby, Hungrey Eyes embalaram não somente Baby e Johnny, como também o espectador que poderia não dar a devida importância para as temáticas relevantes que o roteiro explorava. Meu primeiro contato com o longa foi exatamente com esse propósito: aproveitar a trilha. Porém, ao rever com maturidade é inevitável destacar que Dirty Dancing proporciona simplicidade e leveza ao mesmo tempo em que aborda temáticas significativas.
Pela troca de olhares e fascínio com que Frances observa os funcionários dançando em uma festa no alojamento, o foco imediado do roteiro de Eleanor Bergstein é a conexão fisíca que a dança proporciona e também o romance do casal. Porém, a autora vai além é apresenta subtramas ao expectador que ganham força à medida que o longa intensifica uma aura cult. Frances vive numa redoma e ao se envolver com Johnny, ela experimenta a vivencia de outro mundo, um mundo paralelo e realista de pessoas que sobrevivem e ao mesmo tempo que alimentam um sonho. O primeiro contato é com o ritmo quente do título. O deslumbramento com a realidade que ela se quer sabia que existia a faz quer retornar ao local. Com a convivência com uma classe inferior a dela, a protagonista precisa mentir para o pai para ajudar Penny. A coadjuvante decide fazer um aborto e precisa se ausentar em uma apresentação com Johnny. Baby começa a ensaiar com Johnny e o inevitável acontece: eles se apaixonam. Penny faz um aborto clandestino e Baby precisa recorrer ao pai para salvá-la. Duas subtramas são estabelecidas: o aborto e a quebra de confiança entre pai e filha. Em uma cena emblemática, Baby questiona o pai sobre viver em uma redoma e o preconceito que ele tem por Johnny ser de origem humilde. Eleanor sabiamente introduz temáticas significativas ao mesmo tempo que intensifica o amadurecimento de Frances. Existe um cuidado da roteirista com o arco dos coadjuvantes, como a inferioridade que a irmã sente aos olhos do pai, a objetificação masculina, a crise financeira de Max e o preconceito. Por ser uma roteirista, temáticas mais delicadas ganham a sensibilidade do olhar feminino, como no caso do aborto de Penny. Ter Eleanor proporcionando voz aos personagens é o grande diferencial do longa.
Além do roteiro ser primordial para o sucesso de Dirth Dancing, outro aspecto que impulsionou e ganhou o espectador foram os atores. A química entre Jennifer Grey e Patrick Swayse move o filme e reforça o poder da escolha certeira do elenco. Existe uma inocência que é quebrada aos poucos por Jennifer ao se entregar para Patrick. A atriz proporciona leveza para a personagem especialmente nas cenas em que está aprendendo a coreografia para a apresentação. Já Patrick empresta ao protagonista uma aura mais intimista por conta da vida dura que o personagem leva e pelo preconceito que sofre quando a carteira de um hóspede é roubada. Existe uma dualidade interessante no casal, enquanto tudo para Jennifer é novo, para Patrick é a busca de sempre ter que provar algo a mais. Enquanto Baby acha que Johnny é o "lover boy" do local, ele tem plena consciência de que é usado por mulheres que buscam uma aventura sexual passageira.
O diretor Emile Ardolino insere o espectador nas cenas de dança tornando o filme mais pulsante e envolvente. Quando Baby observa os funcionários pela primeira vez somos tomados pelo fascínio da protagonista. A câmera capta a energia dos atores também na icônica cena do desfecho ao som de Time Of My Life. Nos momentos dramáticos Emile explora o primeiro plano e a química de Jennifer e Patrick faz o espectador refletir sobre as temáticas do roteiro. Emile destaca a magia do cinema que permanece no imaginário do espectador e que nos faz assistir Dirty Dancing independente da cena que esteja passando.
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