Pular para o conteúdo principal

Excesso que prejudica o todo (Jack: O Estripador - A História Não Contada)


Jack: O Estripador - A História Não Contada aborda a temática dos assassinatos de várias mulheres prostitutas em Whitechapel, Londres. O ano é 1888 e as investigações avançam de forma lenta à medida que as mortes surgem aterrorizando a população local. O inspetor Reid conta com a ajuda do médico legista Locque para solucionar os casos. As mortes são semelhantes, com cortes profundos, de quem realmente entende sobre anatomia humana. Elizabeth é a esposa de Locque e não compreende como o marido se entregou ao alcoolismo, apesar de seus esforços para mantê-lo por perto. O roteiro de Steve Lawson transita entre as investigações, corrupções, sensacionalismo jornalístico, traições de Locque e uma subtrama com o viés negativo. A introdução de alguns personagens em subtramas paralelas instiga, mas ao mesmo tempo não ganha força suficiente para manter-se e cativar o público. Um momento primordial para a compreensão dos conflitos internos de Locque cansa o espectador pelos flashbacks repetitivos. Com o cansaço gerado pelo recurso o plot twist voltado para o viés feminino perdea força. 

As atuações são marcantes e atraem o espectador para os conflitos internos dos personagens. Jonathan Hansler empresta uma alma atormentada para Locque. O alcoolismo gera uma degradação moral e o atormenta de forma significativa para que o ator ganhe o destaque em grande parte da trama. Já Chris Bell é a personificação do sensacionalismo jornalístico. O ator proporciona a Stubb uma aura de canastrice que prende a atenção desviando o foco das investigações. O ator proporciona sarcasmo ao coadjuvante, uma pena que permanece pouco na narrativa. Sylvia Robson é um dos destaques femininos, porém, pela importância do papel a interpretação torna-se fraca gerando pouco impacto. 
 

Um dos grandes equívocos do longa são os excessos nos elementos narrativos. A trilha sonora é a verdadeira protagonista. São poucas cenas em que o recurso não está presente. Em um breve momento de silêncio e sufocamento de Locque, o espectador compreende as emoções do personagem, porém, logo a trilha retorna para que a tensão seja mantida. Podemos traçar um paralelo do elemento narrativo para gerar a atmosfera de suspense e terror, mas o excesso acaba por prejudicar consideravelmente a tentativa de manter a tensão. A trilha também é utilizada para acrescentar dramaticidade e auxilia na falta de ritmo do longa. O equívoco maior é o plot twist que inverte a narrativa tão conhecida do espectador. No desfecho a temática central é abafada pelo excesso dos elementos narrativos que prejudicam o todo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma guerra que está longe de acabar (Um Estado de Liberdade)

O período era a Guerra Civil Americana e o fazendeiro Newton Knight foi convocado para lutar, mas vários questionamentos lhe inquietavam: Morrer com honra defendendo a Nação? Qual o objetivo da guerra? Quais eram as verdadeiras motivações? Após perder o sobrinho, Knight responde ao companheiro: "Ele não morreu com honra, ele simplesmente morreu." O protagonista leva o corpo do jovem para a mãe e a partir deste momento é considerado desertor. Determinado e ao mesmo tempo refugiado em um Pântano com escravos foragidos, o personagem torna-se líder de causas significativas: A independência do Estado de Jones, no Mississippi e a questão racial.  A narrativa peca em alguns aspectos no roteiro por explorar subtramas desnecessárias que desviam o foco da trama principal. A montagem prejudica o ritmo do filme ao enfatizar a história de um parente distante de Knight. O mesmo acontece com a primeira esposa do personagem, interpretada por Keri Russel. O núcleo familiar é aprese...

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...