O figurino e desing de produção intensificam o olhar do espectador entre o passado e presente. Inês surge em momentos pontuais com um casaco vermelho, que explora a paixão por Gerardo, na primeira entrega sexual do casal, e , posteriormente, em atos violentos do movimento. Justo utiliza tons mais sóbrios casando com o cunho psicológico que o personagem se encontra, porém, os tons mais pesados são utilizados no passado ressaltando à raiva que nutre por Gerardo. Já Gerardo é mais focado apresentado um figurino monocromático, o foco está no movimento que tirou a esquerda do poder. Interessante perceber como o desing de produção acompanha o vai e vem da montagem. Os carros, vestimentas e cartazes situam o espectador na década de 1970. No presente, Inês é uma empresária de sucesso que vive em uma casa luxuosa, onde não pulsa vida. Tudo é extremamente assimétrico e pragmático, o que reflete perfeitamente no que se tornou o relacionamento do casal.
As atuações são reflexos diretos das consequências vividas no passado. Mercedes Morán proporciona para Inês a maturidade e um olhar melancólico por tudo que viveu. Ainda mantém a altivez da juventude, que servia de bússola para Gerardo e Justo. Existe um trabalho importante presente na composição de Justo interpretado por Marcelo Alonso e Pedro Fontaine. A postura de ambos é muito similar, tanto na juventude quanto na velhice. O olhar distante e a postura corporal rígida permanecem no trabalho de ambos. Também podemos observar o contraste presente no trabalho de Gabriel Urzúa e Felipe Armas. O primeiro é contido e pulsante em momentos precisos. O segundo, de uma entrega à apatia, resultado direto de anos culminando os acontecimentos do passado. Além do trabalho dos atores podemos destacar também a câmera de Andrés ao captar com primeiro plano e close nas nuances e conflitos internos do trio. O traveling é destaque principalmente no ambiente de trabalho de Inês para que as reuniões tenham uma atmosfera mais dinâmica. Aqui em Aranha, o diretor reflete na postura dos personagens muito do que observamos nas figuras ditatoriais de vários países. Um extremismo que cega os personagens. Na ciranda entre passado e presente, uns simplesmente vivem com o sentimento nostálgico do amor; outros sobrevivem e ainda temos alguns que tentam manter o passado distorcido vivo em futuras gerações.
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