Los Lobos foca em temáticas universais que tocam em cheio o coração e instantaneamente provocam uma identificação no espectador. A trama gira em torno dos pequenos Max e Leo, irmãos que migram para os Estados Unidos com a mãe para buscar uma vida melhor. O roteiro explora as dificuldades de adaptação e a luta de Lucia para sustentar os filhos. Os três vivem em um cômodo e dormem no chão. Os empregos de Lucia são voltados para os imigrantes: trabalhos repetitivos em fábricas. Não é à toa que os pequenos desenhos lobos em papéis com ofertas de emprego. É a nova vida da família: os meninos passam à tarde literalmente presos em casa enquanto a mãe dorme poucas horas por dia. O refúgio é um gravador de fitas que Lucia utiliza para ensinar algumas regras aos filhos e escuta de forma saudosista a voz do pai. Se Lucia sente saudades do pai, os meninos também nutrem esse sentimento, mas como a mãe evita tocar no nome dele, o espectador compreende que o pai simplesmente foi embora. Como a mãe tenta manter a forma lúdica de ensinar aos filhos os sentimentos da vida? Lucia fala que o pai das crianças entrou em uma lâmpada e foi embora. O lúdico surge em forma de animação, em vários momentos para ressaltar as subtramas dramáticas que envolvem a adaptação dos meninos e a ausência do pai. No decorrer dos atos algumas questões são levantadas, porém, não ganham o devido destaque. É o que acontece com senhorita Chan e o marido, que alugam o cômodo para Lucia. Sabemos o necessário com uma única cena: Chan sai do cômodo para fumar para se distanciar do marido. É o que basta para o espectador compreender que apesar de viverem juntos, a relação do casal está turbulenta. E, assim, o roteiro foca em temáticas importantes de forma singela e intensa.
A narrativa foca boa parte na atuação dos meninos que ganham a tela e são responsáveis pela sensibilidade que atinge o espectador. Existe um contraste fundamental entre os irmãos, com personalidades distintas. Max é o mais velho e precisa ser o adulto na ausência da mãe. Com apenas oito anos, o pequeno sabe que a mãe não fala a verdade e que a realidade é bem diferente do que imaginava. Já Leo é a pura inocência de uma criança de cinco anos. Ele sonha em conhecer a Disney e sente quando quebra sem querer a fita com a única lembrança do avô. Os pequenos são irmãos na vida real e a sintônia entre eles é sentida no filme de diversas formas. Quando brincam de luta ou nos momentos mais sensíveis a realidade ultrapassa a barreira da ficção. E o que dizer de Martha Reyes Arias? É um misto de naturalidade e intensidade no olhar que o público sente o sofrimento constante da mãe em tentar proporcionar uma vida melhor para os filhos. Cici Lau é a única atriz experiente do elenco e consegue o que poucas atrizes veteranas fazem: igualar a naturalidade quando contracena com os pequenos.
Los Lobos é repleto de simbolismos em diversas cenas e nos pequenos detalhes consegue extrair a emoção do espectador. O diretor mexicano, Samuel Kishi Leopo, não precisa de muitos ângulos e enquadramentos para explorar uma temática universal, com pequenos detalhes Samuel extrai intensos sentimentos dos personagens. O gravador estabelece um elo para o trio, os desenhos tão significativos que suavizam subtramas mais densas e como Lucia fica pequena ao ser explorada na fábrica em que trabalha com uma bandeira gigantesca dos Estados Unidos ganhando toda a tela são cenas em que o diretor intesifica o mínimo para torná-lo grandioso. Outro elemento narrativo fundamental e pontual é a trilha sonora. Delicada e certeira, ela surge para embalar os pequenos na medida exata, não carregando no drama. O desing de produção é inexistente, pois Los Lobos é o tipo de filme que se beneficia do ambiente em si. O local onde a família mora é o mesmo em que várias famílias mexicanas sobrevivem. O parque de diversões não é a Disney, mas é o refúgio de muitas crianças que buscam lazer com muito pouco.
De tempos em tempos o cinema independente nos emociona com muita simplicidade que transborda emoções em cada cena. Los Lobos retrata a luta de muitos ao redor do mundo que buscam simplesmente sobreviver. Lucia é o retrato de várias mães solo que sustentam os filhos e se anulam para que eles tenham o mínimo para viver. Além dos conflitos interiores dos protagonistas, o roteiro explora a redenção de demais coadjuvantes que lutam para para não alimentarem o rancor dentro de si e deixam o bem prevalecer. Los Lobos toca o espectador com poucos recursos e transmite uma mensagem de união, afeto e sensibilidade em pequenos detalhes. Detalhes gigantes que atingem em cheio o coração do espectador.
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