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Pouca intensidade para Ozon (Verão de 85)



Verão de 85 é o um longa que transporta o espectador para a década 1980. O figurino é repleto de cores vivas e calças jeans típicas. As jaquetas então... Um verdadeiro retorno ao passado que causa nostalgia em quem viveu no período proposto. Outro elemento narrativo que permeia toda a narrativa é a escolha precisa da trilha sonora. Sailing, de Robert Stewart. cabe como uma luva no romance do jovem casal, principalmente, pelo fato de ambos se conhecerem velejando. 

Na trama o jovem Alexis está velejando e o tempo muda drasticamente. David surge e consegue salvá-lo do temporal. O roteiro de François Ozon é direto ao abordar o relacionamento dos jovens. David possui um personalidade forte e impulsiva. Logo o personagem convida o protagonista para frenquentar sua casa e já no primeiro ato o romance acontece. Nos demais o espectador acompanha a instabilidade do relacionamento. Ozon foca nas camadas dos protagonistas ressaltando ao máximo a personalidade de ambos. David é uma força para o longa, já Alexis é mais intropectivo. Os opostos agregam de forma diferenciada para a narrativa.


Quem poderia dizer que o grande problema do longa seria a direção de François Ozon? Uma das características marcantes do diretor é saber como poucos criar uma atmosfera intensa de suspense. Um dos filmes mais recentes de Ozon, O Amante Duplo, nos envolve em um puro exemplar do gênero que flerta também com o terror. Uma das características que faz o diretor ser tão marcante prejudica consideravelmente a narrativa. Ozon possui o domínio da câmera que prende o espectador, porém, o suspense em torno de algo tão cotidiano, me fez refletir se François seria o diretor certo para o projeto. Ozon nos prende mais no roteiro em si do que propriamente na direção. A cena em que Alexis dança com David na boate e em outro momento específico repleto de intensidade, nos faz constatar: "Aqui temos o domínio do Ozon", porém, são momentos pontuais. 

Outro ponto que o diretor sabe como poucos é extrair do elenco ótimas atuações. Como o roteiro foca no casal de protagonistas, Alexis é o protagonista, mas David também possui o mesmo destaque na trama, então não seria um equívoco afirmar que os dois jovens atores são protagonistas do longa, os atores precisam ser competentes ao conduzir a trama. Félix Lefebvre demonstra domínio no olhar e consegue explorar bem a introspeção da descoberta do primeiro amor. Porém, Benjamin Voisin, me fez lembrar Jude Law, em O Talentoso Ripley. Como a atmosfera fica mais leve e cativante com o carisma e intensidade que Voisin empresta para David. Os opostos, cada qual com sua peculiaridade, aproxima o espectador da narrativa. Na década de 1980, o preconceito ainda era muito forte. Ozon demonstra sensibilidade em tocar de forma sutil sobre o assunto mencionando um tio que teve de ficar longe da família. Com uma simples frase, o diretor ressalta que existe uma abertura da parte materna. Ao término do longa podemos refletir se realmente assistimos um filme de Ozon. A autoria está lá, porém, o enredo é de uma intensidade mínima para o olhar do diretor.

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