O roteiro de Na Trilha do Sol explora personalidades opostas: de um lado, o médico oncologista Michael Reynolds, extremamente racional; de outro, o jovem Brandon, que conhece o doutor em um programa específico do governo voltado para o tratamento de presidiários. Brandon não vê outra saída, com apenas um mês de vida, decide sequestrar Michael, pois acredita que pode ser curado por um indígena, no Arizona. O grande trunfo do espectador é a relação entre os personagens. Não existe coadjuvante, Woody e Joh ganham a narrativa por completo. O embate entre ambos, aos poucos, ganha intensidade e empatia. Fé, religião, preconceito e diferenças sociais são subtemas explorados na trama. Quando Michael tenta resistir o roteiro explora vias fáceis para que Brandon fuja com um carro roubado. Tirando todo núcleo de Victoria, que quebra a intensidade da relação entre os protagonistas, o roteiro ganha o espectador ao explorar a relação dos personagens principais.
Como o roteiro é voltado para a interação dos protagonistas, os atores são fundamentais para que a narrativa tenha força. A escolha por Woody Harrelson como Dr. Michael é certeira. O ator domina o filme como um todo transitando entre explosões de fúria e sensibilidade. Aos poucos Woody transmite empatia pelo jovem que não tem nada a perder. Já Jon Seda também é uma escolha que acrescenta por trazer rebeldia e intensidade para a narrativa. Existe uma zona de conforto na interpretação do ator, mas que cabe no contexto proposto. É a junção entre a experiência de Woody e a intensidade presente na juventude de Jon que proporcionam química entre os atores e cativa o espectador.
A direção de Michael Chimino também é envolve. Existe uma atmosfera de tensão criada no decorrer da narrativa e o diretor aumenta a gradação da tensão quando o filme ganha a estrada. Um road movie repleto de conflitos internos. Aos poucos, o espectador é apresentado ao passado que assombra Michael. O flashback é explorado ao máximo para ressaltar o trauma do protagonista. Aqui o ritmo é quebrado sempre que o recurso é utilizado, porém, na década de 1990, poderia ser considerado uma inovação.
Na Trilha do Sol pode não ter envelhecido muito bem, principalmente na questão dos flashbacks, porém, o roteiro ainda toca em temáticas que pouco avançaram no decorrer das décadas. O preconceito ainda mata, as diferenças socias estão cada vez mais intensas e jovens sem rumo. Os elementos narrativos não superaram a barreira do tempo, mas o que ainda está presente com afinco são as temáticas existentes nos opsotos neste road movie.
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