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Equilíbrio com sensibilidade (O que Será?)


Bruno Salvati é um cineasta frustrado, inquieto e extremamente sarcástico. Após flertar com uma moça na rua, o protagonista, em um momento de distração, bate a porta do carro no nariz. Bruno demora para estancar o sangue e realiza alguns exames. Dra Paola o alerta sobre o diagnóstico: o protagonista sofre de uma doença grave que pode ser fatal. Ao tentar a doação dos filhos e familiares sem êxito, uma esperança surge em outra cidade. A esperança faz segredos serem revelados e os laços familiares ficam estremecidos.

O que Será? alterna momentos cômicos e dramáticos no arco de Bruno. O roteiro explora por meio de flaskbacks a infância do protagonista, a relação de afeto materno e as rusgas com o pai. Existe uma quebra natural no ritmo da narrativa por conta dos flashbacks, mas a opção em destacar tais momentos entre uma sessão e outra de quimioterapia, destaca a pausa que o longa necessita para o melodrama. O terceiro ato ganha um ritmo mais acelerado com o encontro de Bruno e Fiorella. Não prejudica o longa no geral, mas o espectador sente a diferença de ritmo entre os atos. Os coadjuvantes possuem momentos pontuais referentes a personalidade. Adele é forte e dificilmente demonstra seus sentimentos, já Umberto é transparente e sensível. O roteiro toca também em subtemas como preconceito e relações extra conjugais.

A direção de arte abusa de cores vivas e fortes. O quarto dos filhos é reflexo da personalidade de cada um. Umberto é instável emocionalmente e possui cartazes espalhados desosganizados pela parede. O quarto de Adele possui luzes delicadas e é mais organizado. Outro elemento narrativo que sempre está presente é o vermelho no figurino. Em momentos importantes como quando os filhos tiram sangue; no reencontro de pai e filho e na viagem para uma decisão importante, a cor sempre está presente evidenciando os laços familiares. A trilha sonora também destaca momentos entre os familiares e a enfermidade do protagonista no hospital.

O sarcasmo presente no roteiro ganha intensidade no inquietude de Kim Rossi Stuart. O ator alterna as camadas do protagonista de forma segura. O que Será? ganha uma atmosfera leve graças à interpretação de Kim. As explosões emocionais de Bruno envolvem o espectador é tornam a temática sensível e cômica. Já a direção de Francesco Bruni explora o zoom out em cenas mais dramáticas no hospital. No primeiro ato existe um domínio de câmera com relação a diversidade de ângulos e planos destacando a reflexão do protagonista sobre a morte. O grande mérito de Francesco é equilibrar drama e comicidade de uma forma leve e sensível. 

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