Você gostaria de ter ao seu lado um conselheiro, que por diversas vezes é uma figura paterna e ainda lhe ensina a arte do karatê nas horas vagas? Sim, nas horas vagas porque na trilogia Karatê Kid, "Daniel -san", um jovem esquentadinho, não somente aprende a arte marcial para as lutas finais, como leva uma lição para toda a vida: o auto conhecimento. Sr. Miyagi tem uma paciência de jó para fazer o protagonista perceber e tentar buscar o equilíbrio interior. Lógico que Daniel enfrenta problemas típicos de um adolescente, mas aguentar a interpretação ligada no 220 de LaRusso no terceiro filme... Seu Miyagi é um senhorzinho único e está de parabéns. Deixando a ironia para mais adiante na crônica, vale retomar ao auto conhecimento. O segundo filme da trilogia é o meu predileto, pois proporciona camadas mais densas para o sensei. Uma indagação surge: Seria o personagem, indicado ao Oscar de ator coadjuvante, no primeiro longa, um coach atual? Não. Definitivamente o Seu Miyagi (seu para os íntimos) é um conselheiro que auxilia o protagonista, porém, o carismático senhor nunca toma decisões por Daniel, Ele o faz trilhar o próprio caminho. O segundo filme é necessário justamente para enfatizar que o Sr. Miyagi fez escolhas equivocadas quando jovem e tem que enfrentá-las. O coadjuvante é repleto de frustrações, como qualquer ser humano, portanto, o personagem passa longe de determinados coachs que pregam a ilusão da felicidade eterna. Ele é a figura paterna que deseja o melhor para o filho, nem que para isso o adolescente apanhe a trilogia inteira e tome o caminho errado.
Os filmes são de uma simplicidade tamanha e agora podem ser revisitados por conta da série Cobra Kai. Mesmo que os filmes ganhem um ritmo bem acelerado e que arcos não sejam concluídos devidamente, o que realmente importa é como a relação entre os personagens os transforma. Vamos retomar um tiquinho a ironia para abordar os vilões da trilogia. Ao rever os filmes, as caras de bocas de Martin Kove são dignas de risos. A dramaticidade no terceiro filme cai por terra quando o ator tenta esboçar um pouco de intensidade para John Kreese. E o que dizer de Thomas Ian Griffith? Juntando a caricatura de Kove e Griffith emendando uma fala após a outra cabe ao espectador tentar acompanhar o fio da trama que na realidade é uma cópia do primeiro longa.
O que fica do legado da trilogia? O quanto o esporte transforma o ser humano, uma transformação interna e externa. Seu Miyagi e Daniel estabelecem o equilíbrio que a narrativa necessita. Imagino quantos espectadores procuraram aulas de Karatê após o primeiro filme. Além da inspiração para o aprendizado do esporte, a trama explora temáticas relevantes que praticamente todo o jovem se identifica. Em determinado momento o carismático senhor ressalta que Daniel o transformou e não o contrário. Ao rever a trilogia para escrever este texto finalizo com um questionamento: E se todo jovem tivesse um Sr. Miyagi como orientador, o mundo seria este caos ?
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