O estudo de personagem proposto no filme Dogman é caucado no físico do ator. Por ser esguio e com estatura baixa, o protagonista reforça o tipo físico voltado para as características desenvolvidas no arco de Marcello. Outro ponto importante no desenvolvimento do protagonista é a carência pelo fato de ter contato restrito com a filha por estar divorciado da esposa. E, assim, o cotidiano do protagonista é voltado para trabalhar e de vez em quando se dar ao luxo de evitar os problemas gerados por Simoncino.
O trabalho de Marcello Fonte atrai o espectador por ir muito além do físico. O carinho com que Marcello trata a filha toda vez que a encontra e a vontade de mostrar para todos que pode ser bom em alguma coisa cativa no decorrer dos atos. Em certos momentos o protagonista encurva os ombros, reflexo direto da timidez presente na composição do ator evidenciando o estudo detalhado ao compor o protagonista. Quando o personagem se envolve com Simoncino a vida toma rumos complexos e o destino ganha contornos trágicos. É neste momento que Fonte explora outra camada essencial do protagonista. Uma coragem toma conta do personagem e o ator brinca ainda mais com os contornos propostos no arco do roteiro de Matteo Garrone. Já Eduardo Pesce também trabalha com o físico a seu favor e por ser quase monossílabico Simoncino é pura brutalidade, o que contrasta perfeitamente com a fragilidade de Marcello.
A direção de Matteo Garrone acompanha o protagonista a todo instante fazendo com que o espectador torça de forma intensa para a reviravolta de Marcello. A câmera é íntima do personagem e sentimos a raiva que surge de forma gradual até o desfecho pela aceitação, mesmo que por decisões e caminhos tortos. A nossa interação com o protagonista é resultado do close-up em cenas específicas movidas pela tensão entre Simoncino e Marcello. A câmera tremida reforça que mesmo que Marcello busque vingança, a fragilidade ainda é uma característica marcante do protagonista. Esse aspecto pode ser observado no acerto de contas entre a dupla e na revolta ao descontar a raiva na moto. Além da direção, Matteo apresenta um roteiro que alterna entre a agilidade dos acontecimentos e a contemplação nas relações afetivas. Em determinado momento o protagonista passa por uma situação marcante e somente com uma frase o espectador percebe que a vida do protagonista não será mais a mesma. Já a contemplação é sabiamente explorada na relação entre pai e filha. A pequena sabe que o pai está em apuros, mas em nenhum momento deixa de estar presente na vida de Marcello. De forma visceral e com uma violência gráfica que impressiona, Dogman reforça a solidão na cena final pelo distanciamento dos amigos. Cão e protagonista desfazem um elo e estabelecem de forma definitiva a solidão de Marcello.
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