Pular para o conteúdo principal

Temáticas intensas e necessárias (Dilili em Paris)


Dilili é uma jovem claramente a frente de seu tempo. Ela necessita de conhecimento e o mais importante: não possui preconceitos. A pequena protagonista, após ser uma peça de exibição em Paris, sim, ela fica junto de algumas pessoas da mesma nacionalidade, como se fosse uma espécie rara em extinção. Por determinado momento, Dilili permanece em um local específico para a "apreciação" dos turistas que visitam o lugar. A primeira cena já causa impacto no espectador e além de todo conhecimento que Dilili absorve ao longo da animação, o público permanece atento aos passos da protagonista para desvendar o sequestro de várias jovens. Claro, Dilili também se torna um alvo vulnerável para os mestres do mal. 

Algumas referências podem ser vistas na animação ao longo dos atos. A À medida que Dilili tenta desvendar o sequestro das jovens, ela conhece várias personalidades marcantes. Meia-Noite em Paris vem em mente a cada cena em que a protagonista anota pistas sobre o grupo de sequestradores. A jovem pode não fazer ideia da personalidade que acaba de conhecer, mas o espectador fica encantado com cada figura emblemática que surge na tela. Cada um possui uma função específica para transmitir conhecimento e auxiliar Dilili na busca por respostas. No meio de uma fascinante jornada a protagonista encontra Monet, Rodin, Santos Dumont, Frida e outras personalidades marcantes em determinada área. Dumont é o personagem mais significativo que ajuda a protagonista a finalizar sua missão contra os mestres do mal. Além de Dilili sempre aprender com cada personagem, o roteiro de Michel Ocelot explora questionamentos importantes para o público-alvo da animação. O filme toca em assuntos pertinentes como o valor da amizade, o preconceito e o empoderamento feminino. Todos os temas são explorados de forma delicada e forte. No terceiro ato o espectador presencia momentos pesados para uma animação, mas que servem de alerta para uma temática atual. A fonte desta vez é o romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood. O viés do empoderamento é explorado de forma inteligente e coerente na trama. 


Apesar da direção de Michel explorar a repetição de algumas cenas, elas contribuem para o viés cômico presente na narrativa. Quando Dilili encontra um personagem, ela sempre os cumprimenta dizendo que é um prazer conhecer cada um. As cenas poderia ser cansativas, pois a protagonista encontra uma personalidade marcante a cada momento, porém, a entonação do trabalho da atriz ao compor a voz de Dilili transforma cada encontro em um momento terno voltado para a comédia. O mesmo acontece quando a protagonista sobe e desce escadas. Visualmente as cenas são muito próximas, mas o barulhinho dos sapatinhos faz toda a diferença. Além da entonação e trabalho vocal dos atores que auxiliam na imersão do espectador, o trabalho visual é encantador. Como Dilili está conhecendo Paris, seu amigo a leva para os principais pontos turísticos da cidade. Todo o trajeto da protagonista e embalado por uma diversificada e sofisticada trilha sonora. Dilili em Paris é uma animação atual que explora temáticas de cunho intenso e necessário para uma geração pequenina sedenta por informação.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...