O cinema dos Irmãos Dardenne prioriza a humanidade dos personagens. Em O Jovem Ahmed, os diretores voltam o olhar para o extremismo religioso. O protagonista passa por uma fase naturalmente confusa, a adolescência, enquanto leva os ensinamentos religiosos até as últimas consequências. Após tentar matar a professora por ela lecionar um curso em Árabe, sem utilizar o Corão, o protagonista começa a rever suas atitudes.
Todo o filme é voltado para os atos extremistas de Ahmed. O arco do protagonista envolve o espectador por gerar questionamentos sobre as punições que a religião seguida pelo personagem exige. A cada ação os irmãos convidam o espectador para uma intensa reflexão. Até o primo extremista do jovem o critica por tentar matar Inès, porém, ele deixa claro que Ahmed precisa se sacrificar para não prejudicar o grupo. Mesmo quando Ahmed está recluso em uma instituição para repensar sobre o que fez os irmãos sabiamente exploram ainda mais o viés do fanatismo religioso. As pequenas atitudes com personagens femininas fortes são essenciais para que o espectador perceba como o jovem precisa urgente de acompanhamento psicológico. As personagens femininas possuem arcos primordiais para que as ações de Ahmed sejam questionadas. O protagonista nutre sentimentos por Louise, mas ela precisa se converter para que ele possa ficar com ela. Ela prontamente nega e afirma que é livre para escolher que caminho seguir. O protagonista responde com violência. Mesmo que Louise seja a responsável pelo único sorriso que o protagonista esboça, logo a religião fala mais alto. O foco dos irmãos é o estudo de personagem e como cada ação serve de apoio para um ato maior.
A direção dos irmãos é voltada para explorar ao máximo o protagonista. Não existe respiro para Ahmed. A câmera o acompanha a todo instante proporcionando um grau de intimidade para o espectador. A cada passo do jovem o espectador está junto refletindo sobre os acontecimentos. Alguns enquadramentos são repetitivos justamente para que o público perceba que o jovem vive somente em função da religião. A repetição de Ahmed rezando ou lavando as mãos reforça como as mínimas ações levam ao ato extremo cometido pelo protagonista. O ritmo é mantido para refletir o cotidiano do personagem e a ausência de trilha também corrobora para esse aspecto.
O jovem ator Idir Ben Addi está perfeito para o papel de Ahmed. Existe uma introspecção natural de um iniciante que fica evidente em momentos mais tensos, porém dialoga com a timidez quando o protagonista descobre os sentimentos por Louise. O naturalismo fica transparente em todo o elenco o que proporciona ao filme uma atmosfera mais próxima da realidade do cotidiano de Ahmed. Como o foco é no estudo de personagem, a câmera dos diretores capta toda a introspecção de Idir e o espectador acompanha a trajetória do protagonista em um desfecho humano que o personagem tanto evitava. Um gesto que une a figura feminina e o perdão.
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