Pular para o conteúdo principal

143 - I love you (Won´t You Be My Neighbor?)




O lema de Fred Rogers era o amor ao próximo. O icônico apresentador conseguia tocar diretamente no coração das crianças. O documentário Won´t You Be My Neighbor? relata a trajetória de Rogers com o programa infantil que foi transmitido por décadas na televisão americana. Com uma simplicidade camuflada, o programa era extremamente rico, pois Rogers tocava em assuntos delicados com muita propriedade para atingir diretamente o público-alvo. Em imagens de arquivo, as crianças olhavam hipnotizadas para o apresentador. Com um misto de fascínio e indagação os pequenos faziam vários questionamentos e as respostas eram acompanhadas de um longo sorriso do protagonista. Era uma relação de dependência afetiva, pois quando Rogers tentou realizar um programa voltado para o público adulto, não obteve êxito. 

A figura do apresentador era tão emblemática que mesmo após o término do programa, o chamaram para tecer algumas palavras de conforto em rede nacional quando as Torres Gêmeas caíram em um atentado terrorista, em 11 de setembro de 2001. Com um olhar vazio e distante, na companhia de um piano, Roger parecia não acreditar no que havia ocorrido. Justo ele que sempre falou sobre aceitação, preconceito e amor, somente falou o necessário. Mas a que tudo indica somente a figura de Rogers na televisão já era indício de acalento para os corações aflitos. Além do ataque terrorista, o documentário percorre fatos históricos significativos nos Estados Unidos. Como quando Nixon assumiu a presidência e precisava de recursos financeiros para financiar a Guerra. O programa de Rogers foi ameaçado e ao discursar sobre amor e o poder desse sentimento, a apresentador sensibilizou a todos presentes e o programa conseguiu recursos para permanecer no ar. Outro fato marcante foi quando o seu parceiro de programa, um ator negro, teve os pés enxugados por Rogers. Era a época da Segregação Racial e várias crianças negras não podiam tomar banho de piscina com crianças brancas e o apresentador aproveitou o alcance do programa para ensinar sobre igualdade e quebra de preconceito para os pequenos. A questão complicou ainda mais, pois o ator além de negro era homossexual. O personagem estava com os dias contados no programa. Rogers o aconselhou a esconder sua orientação para que ele continuasse e para que o programa não perdesse os patrocinadores.       


O documentário toca em assuntos familiares com depoimentos de parentes e amigos próximos. A vertente religiosa é explorada, mas o que realmente enriquece o longa é a postura do protagonista com relação à insegurança ao longo dos anos no comando do programa representada na figura do fantoche do tigre. Todos os assuntos mais delicados eram representados na figura do bichinho. A tristeza de Rogers em não saber ao certo como dizer para os pequenos questões delicadas. O tigre sempre foi seu companheiro mais fiel. O guiava na tristeza ao relatar para as crianças que a vida também era feita de momentos ruins e que estava tudo bem em senti-los. O que não é explorado de forma satisfatória e ampla é a parte voltada para as críticas ao comportamento de Rogers. Como pode uma pessoa ser assim o tempo todo? Claro que sátiras foram feitas com a figura pacificadora do apresentador. Eddie Murphy e outros comediantes não perderam tempo em explorar essa faceta de Rogers em sempre falar de amor. Pouco é explorado no longa sobre as pessoas que o atacavam e o chamavam de farsante. Perto do terceiro ato o número 143 aparece para transmitir novamente a mensagem do amor. 1- I , 4- Love, 3- You. 143 =  I Love You , nunca foi tão significativo para os dias atuais. Rogers parecia não acreditar nas atitudes de extremistas religiosos e pensar que tudo que veio após os ataques só demonstra que a mensagem de Rogers foi fundamental e ainda é tão rica para o mundo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d