Pular para o conteúdo principal

Quebra no ritmo atinge o espectador (As Golpistas)


A fala de Jennifer Lopez é emblemática: "Os caras de Wall Street roubam todo mundo. Não estamos fazendo nada de errado. O que eles vão falar para a polícia? Gastei cinco mil em uma boate?". A ambição move boa parte da trama de As Golpistas. As protagonistas, Destiny e Ramona, se apoiam e compreendem que a única questão acima do dinheiro é a maternidade. Claro que o golpe funciona por um tempo. Parecia perfeito embebedar jovens ricos que trabalham em Wall Street e fazê-los gastar ao máximo. Tudo complica quando a quebra da bolsa nos Estados Unidos afeta todos os setores da sociedade. A boate onde as protagonistas aplicavam os golpes não fatura como antes e os clientes não tem mais dinheiro para gastar. Romana está um passo a sempre e quando reencontra Destiny amplia os "negócios". Para que o golpe tenha êxito é preciso drogar os clientes. O risco é grande, mas a essa altura vale tudo para manter o padrão de vida que tinham antes. 

Lorene Scarafina cativa o espectador ao realizar um filme ágil ao mesmo tempo em que apresenta as personagens. Os arcos são explorados com base na narração em off de Destiny. A diretora explora a sensualidade das personagens sem deixar de lado a humanidade de cada uma. A primeira apresentação de Jennifer Lopez é intensa e com o zoom in, Lorene reforça a fascinação de Destiny pela atração principal da boate. Os três pilares da trama são explorados sabiamente na mesma cena: o dinheiro, a sensualidade e cumplicidade. Até a metade do segundo ato a direção é segura e pulsante. O espectador não sente o filme passar mesmo com o deslize em tom de videoclipe na participação de Usher. Lorene conduz a cena com direito a câmera lenta e a partir dela, a direção proporciona ao público outro filme. A diretora explora os conflitos internos das protagonistas de forma contemplativa e o ritmo é oposto ao do começo. O espectador sente a queda na direção e a trama fica cansativa. 


Jennifer Lopez merece o reconhecimento que vem adquirindo em algumas premiações. A atriz demonstra camadas importantes para determinados momentos distintos da protagonista entre os arcos. A diferença de postura na queda e ascensão do grupo é sentida na interpretação de Jennifer. O que não acontece com Julia Stiles. Elizabeth é coadjuvante e surge em momentos pontuais na trama. Esses momentos são exatamente onde a montagem trabalha a compreensão do espectador com flashbacks. O ritmo é quebrado constantemente quando a atriz entrevista Destiny. Além da personagem, a direção peca ao apresentar outro filme para o espectador. Já Constance Wu mantém o tom da protagonista do início ao desfecho. Uma pena que o filme não toque o espectador de maneira intensa durante os atos. A quebra de ritmo é sentida e o longa perde o frescor explorado no começo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...