A cidade praiana de Piedade carrega consigo o peso da vida real. No filme de Cláudio Assis a frase: " A arte imita a vida" ganha contornos verídicos. Omar faz questão de alertar o sobrinho olhando para a imensidão do mar: " Há muito tempo atrás, isso aqui era cheio de gente". A praia está abandonada e o jovem não pode mais mergulhar no mar. O isolamento da cidade é reflexo da modernidade, onde uma empresa petrolífera, na figura de Aurélio, quer comprar o bar da família de Dona Carminha, o único local que ainda guarda lembranças e resiste ao tempo.
A assinatura de Cláudio Assis está no tom de denúncia que percorre toda a narrativa, além do sexo que entrelaça os personagens. Mais o que realmente chama a atenção é o pé no freio de Assis deixando a abordagem crua que permeava os demais longas para dar passagem ao tom mais sensível ao abordar os arcos dos personagens. O diretor presa por um ritmo mais contemplativo para interligar as subtramas a trama central. A apresentação dos protagonistas envolve o espectador, pois a câmera do diretor alterna momentos de introspecção e explosão de sentimentos familiares. Sandro administra um cinema pornô e o ambiente é explorado pela câmera do diretor com enquadramentos fechados e panorâmicas para ressaltar o aspecto de aprisionamento do personagem. Outro elemento narrativo que acompanha os personagens e que também é marca registrada de Assis é a trilha sonora. Em momentos relevantes ela aparece como uma conexão familiar alternando cenas sensíveis e dramáticas.
A atmosfera mais densa da trama é voltada para o personagem de Cauã Reymond. O ambiente é retratado com uma fotografia neon e trilha mais densa. O sexo fica como pano de fundo e sempre está presente no núcleo de Aurélio. Do lado oposto para equilibrar a trama, a sensibilidade vem à tona principalmente nas cenas de Fernanda Montenegro. Os personagens surgem de forma amena no primeiro ato para que nos demais a interação seja mais intensa. O aspecto da modernidade que engole a vida pacata de Omar é reforçado pela insistência e falta de sensibilidade de Matheus Nachtergaele. Nas mãos de Assis todo o elenco cresce e ganha o espectador.
A atmosfera mais densa da trama é voltada para o personagem de Cauã Reymond. O ambiente é retratado com uma fotografia neon e trilha mais densa. O sexo fica como pano de fundo e sempre está presente no núcleo de Aurélio. Do lado oposto para equilibrar a trama, a sensibilidade vem à tona principalmente nas cenas de Fernanda Montenegro. Os personagens surgem de forma amena no primeiro ato para que nos demais a interação seja mais intensa. O aspecto da modernidade que engole a vida pacata de Omar é reforçado pela insistência e falta de sensibilidade de Matheus Nachtergaele. Nas mãos de Assis todo o elenco cresce e ganha o espectador.
Piedade é reflexo de um trabalho mais contido e sensível de Cláudio Assis. O tom cômico envolve alguns personagens e reforça um prisma diferencial no olhar do diretor. O sexo permanece de forma pontual e como pano de fundo. O tom de denúncia e os laços familiares movem a trama ressaltando a sensibilidade dos personagens. O jovem que fica fascinado ao manusear um aparelho que simula a vida marinha ao mesmo tempo em que vive de frente para o mar. O recado foi dado pela ficção que não deixa de ser o reflexo da realidade.
Filme visto no 52º Festival de Brasília
Comentários