Alice Júnior é um filme com público-alvo específico: o adolescente. A protagonista é extremamente moderna e cheia de atitude. Ela possui um canal no you tube e nele dialoga abertamente de forma corriqueira sobre aceitação e preconceito. O pai de Alice trabalha em uma empresa voltada para a fabricação de perfumes. Disposto a encontrar uma fragrância diferenciada ele decide mudar para Araucárias do Sul e extrair de uma pinha a essência para um novo perfume. É o começo do pesadelo na vida da jovem Alice. A cidade pacata e interiorana não está preparada para receber uma jovem trans e do dia para a noite Alice precisa enfrentar batalhas que pareciam vencidas na cidade grande.
Com uma linguagem moderna e inserções constantes na tela o filme ganha um ritmo leve e dinâmico. A protagonista dialoga diretamente com o adolescente conectado no mundo virtual e a imersão do espectador é imediata para este público alvo. Com uma trilha pop e roteiro causado no humor o roteiro trabalha os estereótipos. Tem o jovem que faz bullying, a amiga grudenta, a mais descolada e o garoto que faz o coração da protagonista bater mais forte. A questão do estereótipo explorada ao extremo auxilia ao transmitir a mensagem sobre aceitação e quebra de preconceitos, porém por possuir uma linguagem tão moderna esse aspecto dá a impressão de retrocesso. Passar a mensagem que o filme propõe reforçando estereótipos? Os jovens estão tão imersos em vários questionamentos que a mensagem poderia ser transmitida de forma diferenciada que poderia ser um diferencial a mais em justamente quebrar estereótipos. O núcleo adulto não foge da previsibilidade. O pai de Alice é estrangeiro e a mãe de um aluno gay e estilista é uma hippie que vive tirando energias negativas das pessoas.
As cenas preconceituosas que o roteiro explora tocam no espectador, mas são repletas de frases de efeito. O filme explora temáticas delicadas como Alice não poder utilizar o banheiro feminino ou ser exposta na internet em um vídeo na qual ela faz xixi na calça por não ter banheiro para ela. Durante os atos Alice precisa provar o tempo todo que é uma adolescente normal e que merece ser respeitada. Por não possuir lugar de fala compreendo que a protagonista muitas vezes precisa reforçar algumas falas para tornar mais explícito o preconceito e assim transmitir a mensagem. O problema é que o roteiro prioriza essas falas em detrimento do desenvolvimento dos personagens o que acaba prejudicando o desenvolvimento do filme como um todo.
Anne Celestino é extremamente carismática e conquista o espectador. Ela consegue transmitir as camadas e conflitos internos de Alice e transmite uma mensagem de aceitação fundamental para a quebra de preconceitos. Já a direção de Gil Barone aposta na leveza da câmera e na comédia para envolver o público alvo. Infelizmente o roteiro reforça estereótipos em todos os personagens do longa retrocedendo em vários aspectos que poderiam ser abordados de forma diferenciada. O filme atinge e consegue passar a mensagem proposta mesmo que reforce estereótipos camuflados em uma vertente cômica.
Filme visto no 52º Festival de Brasília
Filme visto no 52º Festival de Brasília
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