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A cegueira e alienação persistem (O Mês que Não Terminou)


O documentário de Francisco Bosco e Raul Mourão vai além dos demais longas políticos lançados atualmente e busca ampliar os lados opostos da direta e esquerda. Os atos exploram o cuidado dos diretores ao enfatizar as consequências do mês de junho de 2013, onde vários movimentos sociais foram para as ruas reivindicar direitos. Do movimento inicial contra o aumento dos valores da passagem de ônibus até o radicalismo extremo da esquerda e direita que culminou na eleição de Jair Bolsonáro. O documentário avança nos anos e explora depoimentos que reverberam e auxiliam na compressão da revolta e raiva que tomou conta do país. Parecia inexplicável como os debates transformaram-se em verdadeiras mini guerras onde todos ainda permanecem cegos e surdos dentro de suas verdades e bolhas virtuais.

O filme explica com depoimentos de cientistas políticos, filósofos, economistas e figuras conhecidas dos dois extremos como as ruas foram tomadas por grupos sociais e amplia o olhar do espectador sobre os fenômenos que aconteceram durante 2013 até a eleição que culminou na revolta de uma grande parcela da elite brasileira que elegeu o seu representante. A reação foi contrária a compreensão, pois em vários momentos as vaias tomaram conta do Cine Brasília. Quando figuras carimbadas da direita brasileira surgiam na imensa tela, as reações foram imediatas. Gritos como "Fora Fascista", "Mídia manipuladora" e quando Moro surgiu as vaias ecoaram em alto e bom som. Reações típicas e acaloradas que são marca registrada do festival. Mas como crítica percebi que o documentário pode ser uma luz no fim do túnel no quesito da compreensão em torno da temática. Independente de partido, o documentário cumpre o que propõe: fazer um estudo amplo sociológico, econômico e político sobre o que levou a divisão do país e culminou em uma raiva generalizada. 

 De um lado o economista político Samuel Pessoa com uma tendência clara em defesa da diretita e do outro Reinaldo Azevedo que pondera algumas dicotomias presentes tanto na direita quanto na esquerda. Uma das falas mais esclarecedoras do jornalista se dá quando ele enfatiza a incoerência da direita ao ser contra o aborto e a favor da pena de morte. Outro depoimento importante para auxiliar no esclarecimento com uma tendência maior para a esquerda é do psiquiatra Tales Ab´saber voltado para a compreensão, ou tentativa, de um movimento que ganha contornos nebulosos e de imenso retrocesso mencionando a direta.  


O documentário dá voz aos mais diversos pensadores e áreas complementares que auxiliam na tentativa da compreensão do surgimento de uma nova classe voltada para a direita brasileira. Uma nova direita que ganhou forças com o enfraquecimento da esquerda e a alienação da antiga direita. O longa ganha contornos específicos ao tentar elucidar e ampliar a visão do espectador sobre uma divisão partidária que ameaça se extinguir. Os movimentos sociais que surgiram em junho de 2013, culminaram no surgimento de uma nova classe social com um potencial gigantesco e para muitos destruidor. Porém, pela reação dos espectadores, o objetivo principal do documentário em tentar buscar uma compreensão sobre os fatos ocorridos ainda está longe de acontecer. A cegueira persiste e a alienação de  ambos os lados continuará por pelo menos quatro anos. 

Filme visto no 52º Festival de Brasília 

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