Pular para o conteúdo principal

Eu tive os trapalhões (O Amor dá Trabalho)


Quando era novinha, no auge dos meus sete anos, não consegui segurar minha emoção: fui pela primeira vez ao cinema e vi Os Trabalhões na Terra dos Monstros. Claro que a experiência foi inesquecível e me recordo até hoje da sensação de ver o quarteto que acompanhava na televisão ganhando as telas. Lembro que fiquei espantada em constatar que não conhecia somente Os Trabalhões, mas alguns artistas que eram coadjuvantes. Não precisava necessariamente ter registro profissional para participar do filme do quarteto que marcou gerações. O pré-requisito era ser famoso. Enfim, o tempo passou, mas a fórmula continuou firme e forte na persona de Leandro Hassum. Assim como no filme dos Trabalhões, o foco sempre foi a imagem cômica do quarteto, em O Amor dá Trabalho, o foco é Hassum.

Na trama Anselmo sofre um acidente no trabalho e faz uma parada estratégica no pulgatório. Para não queimar no inferno, ele precisa realizar uma tarefa de quinhentos pontos e conseguir passar na avaliação de todos os santos. Anselmo precisa fazer Elisângela e Paulo Sérgio ficarem juntos novamente. Ele a abandonou no dia do casamento e um mero acaso, ou melhor, após várias tentativas frustradas para juntar o casal, Anselmo avalia que a tal tarefa não será fácil.

O filme mais parece um stand up solo de Hassum. A interpretação do ator é a mesma feita em filmes anteriores. Elevar o tom de voz e fazer piadas voltadas para o contexto atual. Como a presença física de Anselmo não é sentida pelo coadjuvantes, ao contracenar com os demais atores o espectador sente uma pausa entre as falas, assim o ritmo fica cansativo e a piada perde o timing cômico. São sucessivos momentos de interrupção que prejudicam o filme como um todo. 


Além do roteiro extremamente previsível, os demais atores ligam o automático e interpretam personagens caricatos. O equívoco maior é a "mocinha" que fica encontada ao reencontrar o ex e não tem se quer uma briga com ele. Logo o casal esquece o que passou e a atração é inevitável. Claro que Paulo Sérgio namora uma loira burra que solta algumas palavras em inglês para fingir inteligência. E Elisângela tem um amigo gay no trabalho. Tudo para não fugir das clichês. A realidade é que o filme é de Hassum para Hassum, o restante dos personagens pouco acrescentam na trama.

Os Trabalhões me proporcionaram uma infância mais leve e por conta do quarteto meu primeiro contato foi de puro entretenimento. À medida que assistia O Amor dá Trabalho traçava um paralelo com o filme que vi na infância. O foco do recente trabalho de Hassum é o stand up do ator e participações especiais. O filme dos Trapalhões tinha a presença ilustre de Angélica. Olha que lindeza!!! Bom, a grande diferença é que eu tive Os Trapalhões como referência cultural, já as crianças de hoje... Hassum? 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...