Clint Eastwood ficou conhecido como ator após ter protagonizado a trilogia de Sergio Leone. O Homem sem Nome marcou alguns filmes do ator que conseguiu com o tempo realizar demais projetos e levar ao público filmes autorais como diretor. O tempo passou e o marcante papel foi deixado para trás e o Nome de Clint era reconhecido. Com oitenta e oito anos, Clint volta a dirigir e protagonizar A Mula. O ator vive Earl Stone que encontra uma oportunidade de transportar cocaína em sua picape velha para o cartel de drogas mexicano. É o disfarce perfeito e a oportunidade de olhar com mais intensidade para a família que abandonou a muito tempo.
Clint não utiliza de muitos ângulos e aprimoramento técnico para dirigir A Mula. O diretor aposta em uma linguagem mais simples para envolver o espectador. O filme é focado apenas no momento específico em que Earl começa a transportar drogas. O filme ganha um aspecto de road movie do segundo ato até o desfecho e o elemento narrativo primordial que embala o protagonista é a trilha sonora. Entre uma entrega e outra, Earl embarca na velha picape e volta ao passado com uma trilha que envolve em cheio o espectador. Outro elemento que proporciona um ritmo mais envolvente para o filme é a montagem. A montagem intercala momentos importantes entre os núcleos explorados no decorrer da trama.
Clint possui uma visão mais romântica ao dirigir seus filmes e consegue extrair dos atores interpretações naturalistas que dialogam com o espectador pela humanização. Impossível mesmo é ficar indiferente ao protagonista que utiliza do bom humor em diversos momentos para cativar o espectador. A falta de habilidade com a tecnologia, a forma direta ao tratar os demais com sarcasmo e o carisma de Clint envolvem o público. O mesmo não se pode dizer dos demais personagens. Bradley Cooper protagoniza o núcleo voltado para os policiais que tenta prender Earl. Colin apenas serve de ligação para enfatizar o pouco contato do protagonista com a família. O foco do filme é o horticultor, mas não desenvolver o arco dos demais personagens deixa o filme com pontas soltas. O mesmo acontece com o núcleos familiar e mexicano. Não saber muito sobre os demais personagens proporciona ao filme a sensação de vazio e a constante impressão de atores competentes proporcionando atuações no automático. A Mula ganha força pelo carisma e presença marcante de Clint como protagonista, porém, os demais personagens somente fazem o arco do protagonista ganhar intensidade e não acrescentam no desenvolvimento da trama.
Se o filme fosse protagonizado por outro veterano o envolvimento do espectador poderia ser menor. Ainda teríamos a autoria na direção, mas a atuação de Clint nos faz esquecer durante todo o filme que não sabemos muito sobre a trajétoria do protagonista. Aqui, a presença do ator é tamanha que acompanhamos somente um determinado período da vida de Earl e esse aspecto basta. Próximo ao desfecho o filme ganha um corte singelo e delicado que marca a autoria do diretor ao presar pelos pequenos detalhes. A filha distante enfatiza o desabrochar do pai em uma bela metáfora que reforça os laços perdidos. Ter a função dupla de Clint nas telas e direção faz toda a diferença para o filme como um todo.
A Mula peca por não desenvolver por completo o arco dos personagens, mas em compensação envolve o espectador pela presença marcante de Clint Eastwood. A direção voltada para uma linguagem mais clássica transmite ao público uma sensação rara no cinema atual. Clint é um dos poucos diretores que presa pela simplicidade. O simples enriquece a trama e faz do diretor um belo contador de histórias. Extremamente autoral e com uma carreira marcante, Clint pode parafrasear Earl ao olhar para o passado e refletir sobre o legado de seus personagens e filmes. De forma simples e intensa o ator apenas pode dizer: "All Right, Ok".
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