Pular para o conteúdo principal

Um sopro inovador em Hollywood (Buscando...)


Buscando... é uma trama que presa pelos detalhes, eles estão todos na tela e aos poucos tudo se encaixa como peças de um quebra-cabeça. O envolvimento do espectador é imediato. Com um ritmo constante o público conhece e se conecta com os dilemas da jovem Margot. Com a morte da mãe, a adolescente sempre mantém contato com o pai por mensagens no celular e ligações. David começa a ficar preocupado quando a filha não retorna para casa e logo o pai pede ajuda da polícia para tentar encontrar a filha. 

O roteiro do diretor Aneesh Chaganty e de Sev Ohanian ressalta detalhes e  provoca o envolvimento do espectador. Todos são suspeitos do desaparecimento de Margot. Os roteiristas exploram um equilíbrio interessante entre comédia e tensão. David faz uma investigação paralela entrando no computador da filha. A conexão com a vida real do espectador é imediata. David busca amigos e vídeos em diversas redes sociais da filha. A medida que David consegue ligar os pontos e conhecer um pouco mais de Margot, o espectador também se coloca na pele no protagonista. A conexão entre espectador e protagonista acontece durante todo o filme. Como o pai desconfia de todos ao seu redor, o desespero toma conta e o mais preocupante: após a morte da esposa o afastamento da filha tornou-se inevitável. Como saber os passos de Margot sem conhecê-la? A medida que a investigação avança, a mídia sensacionalista explora ao máximo a figura paterna e para muitos David é o principal suspeito. O roteiro intensifica a realidade com vídeos no YouTube de David brigando com um jovem, "amigos" da escola de Margot lamentando o ocorrido e depoimentos apontando o pai como culpado. A realidade das redes sociais a cada cena conecta o espectador ao que é proposto na trama. 

A direção de Aneesh Chaganty tem como grande aliada a direção de arte. Como a trama gira em torno das redes sociais, todo o contexto proposto instiga o envolvimento do espectador por ser próximo da realidade. Os links, as páginas de busca, ligações, mensagens trocadas, chamadas de vídeo que David realiza com Peter e a detetive Rosemary. Todo o trabalho realizado nos mínimos detalhes da direção de arte proporcionam a tensão necessária em Buscando... Aneesh consegue intercalar momentos tensos e cômicos sem perder o foco da trama. O ritmo é constante a medida que o protagonista avança nas investigações. Tudo com o auxílio de pesquisas no Google e analisando fotos em redes sociais. O ritmo é um coadjuvante importante no filme, pois boa parte da trama é focada na tela do computador. Mesmo que o espectador fique preso a tela do computador, as informações que o protagonista desvenda aos poucos fazem o ritmo ser intenso.


Buscando... reforça a todo momento o envolvimento do espectador, mas também consegue a atenção do público graças ao trabalho do elenco. John Cho transmite tensão como pai desesperado e ao mesmo tempo impõe precisão  ao checar todas as possibilidades para encontrar a filha. Debra Messing equilibra tensão e foco para a detetive Rosemary. Michelle La interpreta Margot de forma introspectiva deixando uma leve sugestão durante todo o filme que a personagem poderia ter atitudes suspeitas. Se não fosse o trabalho realizado pelo elenco, o filme não teria o ritmo e tensão para atrair o espectador.

Aneesh Chaganty demonstra em seu primeiro trabalho na direção e roteiro que o envolvimento do espectador é fundamental logo nos primeiros minutos da trama. Começar o primeiro ato com um breve resumo do drama dos personagens é fundamental para compreender o ritmo que o longa propõe ao espectador. Ser atual e ressaltar assuntos como: o julgamento precipitado das pessoas, jovens querendo visibilidade em redes socias e na mídia mesmo sem ter contato algum com Margot, a crítica aos meios de comunicação e a falta de diálogo nas relações parentais. Todos os questionamentos inseridos em um roteiro criativo faz de Buscando... um sopro inovador em Hollywood. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...