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Um sorriso de cunho duvidoso (Já está ótimo)


Quando um filme é envolvente e interessante logo nos chama atenção. Podemos afirmar que filmes de cunho duvidoso são envolventes e interessantes com a mesma intensidade de um filme excelente? Sim. Claro que pode. Minha experiência com The Room foi a melhor possível. Não conseguia ver quinze minutos seguidos. Fazia pausas estratégicas: deu tempo de estourar pipoca (o que foi de fundamental importância para auxiliar na experiência), tomei uns bons refris (para fazer referência à expressão "uns bons drinks") e para não ficar totalmente fora dei uma checada de tempos em tempos nas redes sociais. Tudo isso e ainda restava uma hora para o filme acabar. O que fazer? Você realmente decide vivenciar a experiência. The Room consegue ser vários gêneros em um só. Era para ser um drama. O protagonista sofre com a traição da pessoa amada, mas é evidente que o filme tornou-se um clássico Cult por ser uma comédia com toques de suspense. Vai me dizer que a escuta telefônica não foi um toque de mestre? E a cheiradinha marota no vestido vermelho? Ah, gente... The Room é interessante é envolvente pelos motivos errados, mas que cativa o espectador, não tenho dúvidas.

Sabe o que um filme ruim pode fazer com quem está meio cabisbaixo? Ele pode modificar o humor de qualquer um. Eu me questionava: onde esse filme quer chegar? Nada funcionava. Tudo era de péssimo gosto. E as atuações eram dignas de Framboesa de Ouro. Mas sabe o que foi interessante e ao mesmo tempo envolvente? The Room deixou meu dia mais feliz de tão ruim que ele foi e sempre será. A cada cena, eu sorria, mesmo sem querer. Sabe aquele sorriso constrangedor? Pois é. Mas depois de meia hora de filme e a cada risadinha do protagonista, ele me levava junto. Se você conseguir aguentar e suportar o filme, ele acaba te transformando de alguma forma. Eu estava em êxtase com tamanha inovação e parâmetros sobre como fazer tudo errado dentro de um filme que ali eu enxergava qualidades. E muitas. E eu só imaginava: quando vai parar? Será que vai ter continuação? O que aconteceu com o trio erótico depois do filme? Ah, gente....quando você se importa com os personagens, o filme tem um tiquinho de valor.

O bom dos filmes de cunho duvidoso, aqueles que são ruins mesmos é que eles nos envolvem de forma diferenciada. Já causam indagações logo nas primeiras cenas. Sharknado é um ótimo exemplo. Aquele filme que de cara você percebe que existe algo de estranho no ar, mas mesmo assim sente uma intensa atração em continuar assistindo. Filmes ruins causam esse efeito no espectador. Uma premissa com tornados de tubarões? O final do seu dia está garantido. Já começa pelo cartaz sugestivo. O cartaz não lembra os filmes de super-heróis com o rosto dos astros? Pois então. Aqui, os astros são os tubarões. Achei sensacional. E ainda tira um sarro bonito da falta de criatividade dos cartazes atuais. Pelo menos cinco protagonistas garantidos no filme. Um filme que você começa a rir logo ao ver o cartaz? Merece créditos. 


Um tornado de tubarões? É isso mesmo? Se no cartaz você vê referências cômicas é porque o filme não é para ser levado a sério. E não é mesmo. Os efeitos visuais são péssimos e os "astros reais" já não eram os primores na arte de interpretar lá nos anos 90. Bom, com atores de cunho duvidoso na interpretação e ainda atuando com o fundo verde... Merece um desconto. Atuar com o fundo verde não é tarefa fácil e quando o efeito visual mais prejudica na interpretação do que ajuda... Boa coisa não pode sair dali. E o melhor de tudo? A intenção é ser de cunho duvidoso mesmo. Ser ruim mesmo. Com força. Como o próprio cartaz avisa: É o suficiente. O filme por si só já dá conta do recado. Pasmem, nada ali beira o suficiente. A canastrice vai nas alturas, literalmente. É um trash canastrão, com a câmera enlouquecida, pernas soltas pela areia da praia, sensualidade gratuita e um para-brisa limpando sangue do vidro do carro. Como não gostar? Ah, gente...é uma lindeza de ruindade. Vale conferir e dar uma chance para os tubarões sorridentes. 

Voltado ao questionamento do início do artigo. Um filme ruim pode ser interessante e envolvente como um filme excelente? Depois de rever The Room e Sharknado, eles possuem seu valor. Com o viés crítico servem de parâmetro para o que não deve ser feito. Verosemelhança em Sharknado? Esquece, ele não foi feito para isso. Uma mãe que menciona um câncer de mama do nada no roteiro? Quem disse que The Room tem coerência no roteiro? Ele tem roteiro? É uma pérola com intermináveis subtramas que não são concluídas. O que importa é que eles foram feitos para entreter quem conseguir assistir até os créditos finais. Em algum momento irá surgir um sorriso no seu rosto, mesmo que seja de cunho duvidoso. Já está ótimo.

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