Custódia é um filme custoso. Impossível evitar o jogo de palavras. Custódia é um filme árduo, difícil e que toca o espectador de diversas formas. Pela forma arrebatadora com que o quarteto transmite tensão a todo momento, pelo roteiro repleto de repetições contundentes e por cada plano explorado pelo diretor Xavier Legrand que evidência a bomba relógio que é a família. Não existe nenhum resquício de afeto entre o pai e o restante da família. O divórcio é a melhor solução. A filha mais velha não entra na custódia, mas sofre igualmente pela desestrutura familiar. Já o pequeno garoto de onze anos, que implora para o pai não bater na mãe é a figura que mais sofre na trama. Os pais precisam dividir a guarda e o filho fica no meio de um turbilhão de ressentimentos.
A trama envolve o espectador por possuir uma temática universal. Ao redor do mundo, diversos casais deixam a relação chegar no limite da violência para procurarem a separação amparada na justiça. Em muitos casos a morte da conjugue acaba sendo o desfecho final. Custódia é um filme francês, mas que poderia facilmente ser brasileiro. A trama aborda em uma atmosfera tensa gradual o desespero da mãe e filhos perante o pai violento. Julien se vê no meio do conflito entre Miriam e Antoine. O pequeno tenta de todas as formas evitar o reencontro dos pais porque sabe que ele sofrerá muito com as brigas do casal. No primeiro ato Julien simula várias situações: apaga o contato da mãe do celular, faz o pai ir para um local desconhecido propositalmente e mente para tentar buscar uma fuga momentânea dos conflitos. Os atos seguem imersos em uma atmosfera tensa e repressora muito pela câmera de Xavier e atuação do quarteto central.
Custódia possui a tensão imediata nos primeiros momentos da trama graças ao elenco que na troca de olhares diante da juíza reforça para o espectador a divisão existente no casal. O posicionamento dos atores em cena e o plano realizado pelo diretor colocando a juíza no centro e separando marido e mulher deixa claro para o espectador o distanciamento emocional de ambos. Enquanto a juíza explica os termos e ouve as advogadas, Mirian e Antonie permanecem estáticos. O olhar de pavor de Mirian na primeira cena, a acompanha por todo o filme. Já Antonie é dúbio porque necessita manter as aparências e conseguir a guarda do filho. O que os atores transmitem em cada cena é um trabalho primoroso e que trás o espectador para dentro do filme. Léa Drucker representa uma mulher como tantas na vida real que precisa ser forte para amparar os filhos, mas que fica paralisada pelo medo com a presença do marido. Denis Ménochet é um ator que transmite a sensação de explosão constante. Ele parece contido nos sentimentos e não consegue por muito tempo abafar o ímpeto violento. O ator constrói Antonie de forma intensa no olhar e fisicamente demonstra uma dureza no andar e na alma. Thomas Gioria é uma grata surpresa. Ele precisa intermediar situações conflitantes e não deixa em momento algum o protagonista oscilar nas emoções. Sempre com um olhar de pavor e revolta na presença do pai, o pegqueno é a chave que impulsiona a trama. Já a figura da irmã vive dilemas importantes e Mathilde Auneveux também consegue expressar toda a tensão quando simplesmente vê o celular. Tudo muda na festa de dezoito anos tão aguardada e a atriz permanece firme nas mudanças propostas no arco da personagem.
Não se engane pela imagem acima, o raro momento de felicidade entre pai e filho logo é quebrado pela desestrutura emocional presente também na família de Antonie. Interessante o roteiro abordar o descontrole de todos e assim fazer o espectador compreender que Antonie também foi criado em um ambiente repleto de conflitos. No terceiro ato, a junção de direção, fotografia e atuação ganha mais força. A opção por filmar no escuro faz o espectador permanecer paralisado com o que pode acontecer e extremamente envolvido pelo sofrimento do trio. A mãe desesperada, o filho que não suporta mais tanto sofrimento e o pai totalmente desequilibrado sem rumo na vida. Momentos tensos e imersos na escuridão de personagens perdidos.
Custódia toca profundamente no espectador porque aborda uma temática universal. Quando os conflitos chegam no limite de uma tragédia o espectador se compadece pelo sofrimento de um quarteto esgotado emocionalmente. Com a direção segura de Xavier que consegue extrair ótimas interpretações dos protagonistas, o filme ganha forças e a tensão necessária para levantar importantes questionamentos. Existe limite entre a autoridade dos pais sobre os filhos? Estar no meio de um conflito familiar pode causar traumas irreversíveis? O choro de mãe e filho é de alívio ou o desespero pode continuar? E o maior dos questionamentos: Julien vai conseguir superar este trauma?
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