O diretor Vicente Amorim possui poucos filmes no currículo, mas consegue entre um trabalho e outro uma interessante alternância de gêneros. O grande trunfo de seu recente trabalho é elevar o cinema nacional para um patamar diferenciado: o gênero de terror. Esse feito merece créditos por ressaltar que o Brasil consegue fugir do padrão globo filmes e de comédias que beiram o ridículo. Motorrad avança em um terreno dominado por filmes vazios que visam somente o lucro. Louvável pelo risco e ausadia em fornecer ao público uma narrativa diferenciada. Ser um ponto fora da curva é importante para a imagem do nosso cinema no exterior, mas o filme é igualmente importante quando atinge o espectador brasileiro sedento de novas experiências.
O primeiro ato de Motorad é envolvente e demonstra força no silêncio. São quase dez minutos com o trio de personagens imersos na ausência de diálogos. Somente o olhar e ações os motivam. A fotografia com paletas escuras reforça a atmosfera tensa e isolada do ambiente. Um filme brasileiro e totalmente mudo? Ok, muito utópico. Ficamos por hora na alternância de gêneros que enche os olhos do espectador mais exigente e que deseja novos rumos para o cinema nacional. A escolha por não sabermos muito sobre os personagens reforça a atmosfera presente na narrativa.
Ausência de diálogos não significa ausência de trama. E o grande equívoco de Motorrad é justamente não desenvolver a trama. Não existe motivação plausível que impulsione os personagens. O elenco jovem defende o projeto, mas o roteiro não auxilia na composição dos atores. Após muitos palavrões, a trama explora vertentes sobrenaturais que ficam soltas dentro do pobre roteiro. Um grupo motociclistas perdidos encontra outro grupo e começa um show de horrores. Mortes injustificáveis tentam envolver o espectador que aprecia o gênero. Sim, esse é o plot da trama. Nenhum ator consegue compor um personagem interessante com um roteiro vazio. Atores perdidos tendo como motivação a morte certeira.
O filme gira em torno de planos repetitivos e com a ausência de trama, no segundo ato o público não consegue se envolver com o que é proposto. Apesar do gênero ser importante dentro do cinema nacional a premissa é vazia. As mortes seguem a cartilha de previsibilidade vista nos filmes do gênero. Uma pena que com um primeiro ato tão promissor, o filme avance para um patamar, no mínimo, estranho. Personagens morrem e o espectador não se importa.
Alguns filmes são verdadeiras obras primas de difícil compreensão. O complexo pode atrair ou afastar o espectador. Existe algo fora da ordem em Motorrad. Muito fora da ordem que afasta definitivamente o espectador da narrativa. Motorrad é o complexo que provoca um incômodo reverso. É o distanciamento gradual e definitivo entre obra e espectador. O Cinema Nacional avança no gênero diferenciado, porém, não deixa de ser um avanço vazio.
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