Pular para o conteúdo principal

Intensidade por duas horas (Mudbound -Lágrimas Sobre o Mississippi)


A Segunda Guerra Mundial, o papel da mulher na sociedade, o estress pós-traumático e conflitos familiares. Mudboun-Lágrimas Sobre o Mississippi oborda temáticas importantes para o contexto histórico proposto entrelaçando os arcos dos protagonistas. A trama explora o ponto de vista de vários personagens os transformando em protagonistas. Todos possuem contexto relevantes para movimentar a trama e trazer o espectador para dentro da narrattiva.

A dramaticidade liga os protagonistas pela narração em off. O elemento narrativo que poderia proporcionar um ritmo mais arrastado para a narrativa provoca o efeito contrário e faz o espectador ter empatia e sofrer em cada momento junto dos protagonistas. O arco dos personagens impressiona pela qualidade do roteiro de Virgil Willians e Dee Rees que aproxima constantemente o espectador do drama vivido por duas famílias que alternam momentos preciosos de alegrias e tristezas. Apesar do filme por diversas vezes explorar com exagero a dramaticidade sempre envolvida pela trilha sonora se faz necessário o exagero para intensificar o poder das palavras presentes no roteiro. 

Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississippi ganha força graças ao elenco competente que reforça cada camada presente nos protagonistas. A preocupação da mãe que prefere não ver o filho indo embora para a guerra. O sofrimento da mulher que perde um bebê. Os traumas de jovens que voltam da guerra. A guerra acaba, mas ela permanece e causa intensos conflitos internos. O refúgio na bebida, a apreensão ao escutar o som de um escapamento furado. A submissão de duas mulheres que sabem o quanto são importantes para que a família permaneça erguida. Enquanto o trabalho físico é destinado aos homens, o esforço mental em manter o equilíbrio familiar pesa sempre para o lado feminino. Como ressalta Laura próximo do terceiro ato da trama : " Todos os problemas aconteciam na ausência de Henry". Todos os aspectos ganham força e refletem nos personagens repletos de camadas profundas.

  

A direção de Dee Rees explora o potencial do elenco e reforça o destaque da atuação em cada cena. Cada ator abraça as camadas e complexidade dos protagonistas sob o olhar atento da diretora. A musicalidade envolve os protagonistas e Rees intensifica os momentos de pequeno prazer que as canções proporcionam aos personagens. A diretora compreende que existe dor física e psicológica vindas do preconceito, mas acima de tudo existem seres humanos quem sofrem com os percalços da vida. 

Mudbound-Lágrimas Sobre o Mississippi explora um viés diferenciado sobre temáticas relevantes. A narração em off transmite a sensação de proximidade do espectador com os protagonistas. Sim, protagonistas. Todos os personagens possuem relevância significativa para a trama. A dor de duas famílias é compartilhada com tamanha intensidade pelo público que existe um sentimento que vai além da empatia. Existe a compreensão que todas as questões exploradas pelo roteiro transcendem a tela e são reais por intensas duas horas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...

O Mito. A lenda. O Bicho-Papão. (John Wick : Um Novo Dia Para Matar)

Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com companhia somente um cachorro e um carro. Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa. Logo na primeir...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...