120 Batimentos Por Minuto é um filme comovente que aborda a luta do grupo ativista Act Up, na França, para mais esclarecimentos e um tratamento digno aos portadores do vírus HIV. É o início dos anos 1990 e o desconhecimento da população sobre a temática ainda era carregada de preconceito. Vale ressaltar que após décadas e muitos avanços no combate ao vírus, o preconceito "ainda" persiste. A trama gira em torno das reuniões do grupo com debates acalorados e ressalta momentos de extrema delicadeza ao focar na vida dos personagens.
O primeiro ato demonstra o poder da edição de Robin Campillo ao alternar as cenas de debates e vivência dos personagens. Se os debates são movidos por intensas discussões, a câmera lenta reforça o alívio e descontração nas cenas em que o grupo dança livremente em uma boate. Durante todo o filme existe essa quebra de ritmo voltada para a humanização dos protagonistas. A edição também é extremamente eficiente ao sensibilizar o espectador sem apelar para o sentimentalismo mesclando passado e presente dos protagonistas.
Após alguns debates e encontros com o grupo, Nathan sente uma forte atração por Sean e no começo do segundo ato, o roteiro também de Campillo explora ao máximo a relação de ambos. Com toques realísticos de "Azul é a Cor Mais Quente", versão masculina, o espectador é tocado pela dedicação total de Nathan ao cuidar de Sean quando a doença do protagonista se agrava. O roteiro envolve e explora com equilíbrio a parte didática do vírus e ganha intensidade com os relatos dos protagonistas sobre seus temores e a angústia da morte.
Mesmo com uma câmera pulsante que alterna alívio e dor, Campillo exibe ao espectador um terceiro ato totalmente distante dos dois primeiros. A melancolia é evidente e se faz necessária pelo sofrimento do protagonista, mas o ruído é tão grande dentro da trama que a sensação gerada no público é de estarmos diante de dois filme completamente distintos. Não existe sentido em apelar para o melodrama intenso e fazer um verdadeiro calvário interminável em volta do Sean. Um protagonista tão marcante precisava de um arco mais envolvente em seu desfecho.
Entre a didática ao abordar os estudos em torno do vírus e a humanidade dos personagens, a edição ganha o devido destaque e move a trama envolvendo o espectador. Outro motivador importante é a entrega dos atores em cena. As atuações intensificam a humanidade de cada personagem. 120 Batimentos por Minuto é um filme esclarecedor e realista, porém, peca ao transformar o terceiro ato em um melodrama de ritmo lento causando um grande ruído ao longo do desfecho dos personagens.
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