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Sobre Muros e o Encantamento da Cultura Mexicana (Viva -A Vida é uma Festa)


Um garotinho de doze anos que conquista o coração de diferentes gerações. Assim é Miguel, o protagonista de Viva- A Vida é uma Festa, nova animação da Pixar. O personagem possui uma ligação forte com a música, mas ao longo de décadas ela foi proibida na família. Por mais forte que seja o elo de Miguel com a música, a família sempre o reprime. No dia dos mortos, data marcante para a cultura mexicana, o protagonista consegue se transportar para o mundo dos mortos. Somente a bênção de um morto poderá trazê-lo novamente para o mundo dos vivos. É na transição entre os mundos que o espectador permanece inserido em um universo repleto de cores, amadurecimento, música, memórias, família e cultura mexicana.

As animações da Pixar são repletas de pequenos detalhes que saltam aos olhos do espectador na tela. O perfeccionismo em buscar cada característica marcante dos personagens cativa crianças e adultos. Miguel sempre que tem oportunidade ressalta o fato de possuir covinha. Ele menciona : " Com covinha, sem covinha!", e assim, o espectador se encanta com todos os detalhes de cada personalidade. O contraste entre a jovialidade nas covinhas de Miguel e o reflexo da idade nas rugas de Mamá Coco fazem do design de produção um elemento narrativo com tons de verdadeiro protagonista dentro da trama.

Além do cuidado minuscioso presente em cada detalhe da animação, o roteiro explora temáticas relevantes ao longo da trama: o valor das memórias e a importância dos laços familiares. As duas temáticas ligam todos os personagens fazendo com que cada um tenha significado dentro do filme. Somente no segundo ato a trama se estende com a presença de Héctor. O filme demora para ganhar ritmo sempre que o personagem tenta ajudar o protagonista. Mesmo com uma performance encantadora da dupla e um momento digno de lágrimas nos olhos, o arco de Héctor proporciona um ritmo distante do restante do filme. As intensas reviravoltas propostas no roteiro proporcionam novamente ritmo para a trama. Outro aspecto interessante é como todo o contexto se entrelaça na cultura mexicana. A trilha sonora é marcante e reforça o equilíbrio entre a comédia e o drama. 


Todos os personagens da animação são relevantes para as reviravoltas propostas no roteiro, mesmo que em alguns momentos o filme perca o ritmo, logo em seguida um personagem cativa novamente o público. O reflexo dos personagens está presente também nos tons de cores na animação. Quando Miguel está no mundo dos mortos, tons mais escuros reforçam o lado sombrio voltado para determinado personagem no terceiro ato. As revelações ganham um aspecto mais denso e as cores acompanham o que é proposto pelo roteiro. O mundo dos mortos destaca a rotina e aspectos presentes no cotidiano dos vivos, com predominância para cores mais vibrantes.

Viva- A Vida é uma Festa reforça os laços familiares e a importância de preservar nossas memórias. Com persongens cativantes e um roteiro repleto de reviravoltas, a animação conquista o espectador. Se na vida real temos muros para distanciar povos, na sétima arte somos envolvidos pela beleza e encantamento da cultura mexicana.

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