Lucy é uma jovem de vinte anos que praticamente vive em uma redoma. Sua vida se resume em escutar a mãe lendo histórias infantis e vendo clássicos do cinema americano. Ver e rever Romeu e Julieta e A Felicidade Não se Compra faz a protagonista acreditar em contos de fadas e finais felizes. O mundo real é bem distante dos filmes mencionados e quando a mãe de Lucy fica gravemente enferma, a jovem precisa procurar um emprego. Mas como sair da redoma que sempre viveu e encarar pela primeira vez o mundo real? O anúncio que encontra nos jornais parece interessante pois é o que Lucy sempre almejou fazer: trabalhar com a sétima arte. Envolto por um tom cômico, o trabalho não era o esperado e assustada a protagonista que vai parar em um festival dedicado ao diretor italiano Federico Fellini.
A trama é ambientada nos anos 90 e a protagonista encantada com o universo de Noites de Cabíria aluga várias fitas VHS e mergulha cada vez mais na filmografia do diretor. Clarice e Kerri estão apavoradas com a possibilidade da jovem encarar o mundo real, mas a mãe afirma que a hora da filha descobrir o mundo chegou. Lucy viaja para à Itália na ilusão de conhecer o autoral diretor. No começo do segundo ato, o roteiro e o trabalho minucioso da edição intercalam o arco da protagonista com as imagens de filmes marcantes de Federico. Os coadjuvantes aparecem na trama associados aos personagens dos filmes do diretor. Clarice em uma saída Deus ex machina começa a perceber a jornada da filha ao assistir Noites de Cabíria. A relação das irmãs se faz necessária dentro do roteiro de Nancy Cartwright e Peter Kjenaas. Diálogos voltados para a comédia reforçam as diferenças entre filmes de "arte" italianos e filmes românticos americanos. O primeiro, com finais abertos; o segundo, com finais explicativos.
A fotografia, direção de arte e trilha sonora acompanham os passos da protagonista. Quando Lucy está na casa da mãe, o quarto é pequeno e a paleta mais escura com um azul frio até pela questão da doença da mãe. O quarto é repleto de desenhos com traços infantis, o que reflete a imaturidade da personagem. Quando a aventura de Lucy começa, a trilha sonora é basicamente um misto de fábula, inocência e aos poucos ganha uma atmosfera mais pesada. A edição que auxilia no amadurecimento da protagonista, ao mesmo tempo prejudica o ritmo da trama. O que é real e imaginário na cabeça de Lucy fica um tanto quanto confuso para o espectador e a transição da subtrama da mãe e irmã chocam no ritmo mais ágil da protagonista.
Os atores estão confortáveis em seus personagens, mas Ksenia Solo apesar de transparecer toda inocência que a protagonista necessita, não convence o espectador que tem vinte anos. Qual a dificuldade em realmente ter uma atriz mais jovem para o papel? Fica evidente que a atriz é mais madura que a personagem e sua imagem causa estranhamento. A direção de Taron Lexon explora com takes aéreos as belas cidades italianas. Veneza exala amor, mas o diretor consegue proporcionar uma atmosfera pesada para a cidade e foge do clichê.
Em Busca de Fellini é um filme cativante e realista. Mescla a magia da sétima arte e como ela transforma o olhar da protagonista. A relação de dependência das mulheres retratada no arco das personagens reforça este aspecto realista e sempre ressalta quetionamentos. Apesar de se perder no meio do caminho entre o que é imaginação e o amadurecimento de Lucy, a trama consegue ser uma tocante homenagem ao diretor autoral italiano.
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