A família do jovem Vanya sofre com uma maldição que não fica muito clara dentro da trama. Aliás, nada é muito claro em A Noiva. O filme começa com a explicação da maldição que atormenta todos ao redor de Vanya. Ele precisa retornar para sua casa e alerta a esposa que seria interessante se ela não o acompanhasse. Claro que eventos estranhos começam a perturbar a jovem Nastya a cada momento que ela resolve entrar em algum cômodo da casa (que ela obviamente não deveria entrar). Lembrem-se, o filme é previsível. Ela entra em todos os lugares até o espectador ficar tonto de tanto ver a protagonista se arrastando durante todo o filme.
Os primeiros minutos de A Noiva são interessantes e envolvem o espectador na trama. Sabemos que existe uma maldição e que ela está diretamente ligada a um negativo de uma fotografia tirada por Barin. Na maldição, o negativo da fotografia capta a alma da noiva de Barin. Com o negativo intacto, a maldição permanece sempre que uma jovem se casa com um membro da família. Se o casamento não for realizado todos morrem. Nastya acha estranho a ausência de Vanya que a deixa na casa para esperar o dia do casamento e simplesmente some. O mesmo acontece com o espectador, ele some sem deixar vestígios devido ao desinteresse na forma como a trama é conduzida. O roteiro não explica ao certo a motivação da família, o que fica mais ou menos claro dentro da trama é que a jovem escolhida precisa ser pura, ou seja, virgem. Durante toda a trama sabemos que Nastya não é mais virgem e mesmo assim a maldição persiste. Personagens aparecem sem um arco definido e alguns perto do desfecho não ganham conclusão. Tudo é extremamente confuso e sem nenhum nexo com o que foi proposto no começo do filme. A protagonista começa a descobrir do que se trata a maldição, só que para gerar uma tensão que nunca alcança o espectador, a personagem literalmente cai e acorda várias vezes deitada na cama. Consegui contar quatro vezes, mas devido ao grande trabalho realizado pela edição, não tenho dúvidas que foram mais, o que quebra o ritmo e a atmosfera de tensão no filme.
Espero sinceramente que as cópias fornecidas pela distribuidora sejam em áudio original. A cópia exibida na cabine de imprensa foi dublada em inglês, não tive contato com o material original, o que prejudicou ainda mais a experiência com o filme. Os atores falavam e o som não acompanhava, um erro grave de sincronia que tira o espectador a todo momento da trama e provoca risos constantes e constrangedores. Por falar em som, a trilha sonora é uma mistura de vários ritmos totalmente deslocados do contexto proposto. Tem o clichê básico do gênero onde a trilha surge para evidenciar que algo poderá acontecer com a protagonista. O filme foca principalmente na sugestão, mas pela direção equivocada, o espectador não acompanha a falsa tensão que é gerada ou tentativa dela.
A tríade composta por direção, edição e roteiro transmitem a sensação de um filme fora dos trilhos. Várias cenas sofrem cortes abruptos provocando no espectador a impressão de que a trama não avança, sempre existem interrupções desnecessárias, como as constantes quedas da protagonista. O espectador não sabe ao certo no que realmente consiste a maldição. Fica subentendido que se Nastya colocar um anel, ela já está incorporada pelo espírito da noiva. Ela passa boa parte do segundo ato com o anel e nada acontece. Outra personagem coloca o anel, mãe de dois filhos, compreendemos que ela não é mais virgem, portanto, o espírito da noiva não teria como se manifestar nela. Mas o espírito se manifesta quando ele bem entende e acha conveniente para fazer a trama continuar, mesmo que nada mais faça sentido. Os atores fazem o que podem, pelo menos os mais experientes, porém a direção de Svyatoslav Podgaevskly é caótica e a cada cena deseja enfatizar algo diferenciado na trama, mesmo que para isso ele explique ( ele também assina o roteiro) diversas vezes em que consiste a maldição. A direção de arte muito fraca evidencia esse aspecto repetitivo do roteiro por deixar claro que os quadros da casa são voltados para a tal questão da noiva do título.
A Noiva é o tipo de filme efeito dominó: um equívoco gera outro, que gera outro e assim a trama perde totalmente o rumo. Os furos existentes provocam risos no espectador que não consegue compreender como uma maldição não segue uma linha simples de raciocínio. São vários equívocos principalmente de roteiro, edição e direção. A tríade não proporciona suporte ao filme e a tortura acaba com a pergunta : qual a melhor parte para o espectador desistir do filme?
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