Se a narrativa é ambientada na Segunda Guerra Mundial, a emoção
logo surgirá nos primeiros momentos do filme. Certo? Em Dunkirk, de Christopher
Nolan, a emoção é sinônimo da tensão vivenciada pelos personagens. O objetivo
do diretor é mergulhar o espectador na ação ininterrupta da Guerra. A trama
acompanha três núcleos (terra, ar e mar) por um fio condutor específico: a
sobrevivência. O interessante da trama é justamente não focar em um núcleo e
desenvolvê-lo. Excelentes filmes voltados para essa temática abordavam os
dilemas e conflitos pessoais dos protagonistas. Nolan foca na ação e em
decisões imediatas tomadas no calor e horror da Guerra. Entre uma cena e outra
começamos a enxergar o mínimo possível de cada personagem.
Uma das protagonistas de Dunkirk é a trilha sonora composta por
Hans Zimmer que literalmente acompanha todos os personagens e proporciona ritmo
para a trama. Outra protagonista é a edição de Lee Smith, que insere o
espectador para dentro da narrativa. Pensar na ausência das duas protagonistas
é retirar a alma do filme. A junção de ambas interliga os núcleos e realça
ainda mais o significado da ação na Guerra. O que prejudica em alguns momentos
é o excesso das protagonistas. A trilha e edição são constantes e provocam um
efeito dúbio no espectador. Ao mesmo tempo que elas o inserem dentro da
narrativa, o sufocam com tamanha informação.
O roteiro também escrito por Nolan apenas observa acontecimentos. A chegada dos aliados, o sufoco dos personagens na busca pela sobrevivência e o resgate de um soldado com o claro objetivo voltado para o momentâneo refúgio. E, assim, as imagens falam mais do que um o roteiro focado no pequeno arco dos personagens. O público tem contato com o essencial e o pouco gera o mínimo de empatia pela circunstância em que a trama é ambientada. A inércia de Shivering é consequência direta do trauma que o toma a cada momento. Tommy deseja voltar para a casa. George fica incomodado e necessita ser útil. Gibson fala com o olhar e Mr. Dawson é a humanidade dentro dos horrores da Guerra. Com um roteiro simples, Nolan consegue transmitir a essência de cada personagem.
Dunkirk é realista ao focar especificamente na ação. Várias cenas
podem soar repetitivas, em diversos momentos o público observa a fuga do núcleo
mais jovem em busca de alimento, mas a trilha e edição evidenciam para o
espectador que mesmo sendo repetitiva, os elementos narrativos transformam e
proporcionam um significado diferenciado no decorrer do filme para atos
semelhantes. Acompanhar Tommy resgatando um ferido é trilhar com o personagem a
angústia de desviar das bombas quando se almeja um simples refúgio. A
estratégia de Nolan é ganhar o espectador pela imersão na trilha que é mesclada
diversas vezes ao longo do filme pela emoção / tensão dos personagens. De forma
minimalista, o público consegue alcançar mesmo que por alguns minutos os
conflitos interpretados pelo elenco.
Nolan foca em uma tríade que facilmente ganha o status de
protagonista e insere definitivamente o espectador na narrativa: trilha sonora,
edição e a Guerra. A empatia gerada pelo filme por completo não seria a mesma
com a ausência desses elementos. Os personagens são imersos em conflitos
explorados de maneira sucinta. Nolan peca pelo excesso, mas proporciona ao
espectador uma leitura diferenciada pautada por fortes protagonistas.
Comentários