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Atitudes extremas são justificáveis por amor ? (Tudo e Todas as Coisas)



Tudo e Todas as Coisas é um filme de nicho. Voltado para o público adolescente, a trama explora o cotidiano limitado de Maddy, uma jovem que não pode sair de casa devido a uma doença rara, a Síndrome da Imunodeficiência Combinada, que a faz ter contato com poucas pessoas. Com a chegada de Olly, um novo vizinho, o primeiro amor torna-se inevitável. 

O primeiro ato da trama pode causar a impressão que o espectador está diante de mais um filme previsível. Ele não deixa de seguir certos padrões voltados para filmes com temática adolescente, mas a trama consegue ir além do óbvio. Como a protagonista vive em um espaço limitado, o cuidado da direção de arte fica evidente em cada aspecto do cenário. A casa de Maddy ganha estruturas futuristas. Tudo é extremamente alinhado e arquitetado, reflexo do comportamento e proteção materna. Outro elemento narrativo importante para compor a personalidade da protagonista são os figurinos. Todos em tons claros para dar um ar de leveza para Maddy.

O olhar feminino da diretora Stella Meghie transmite para o espectador a suavidade da trama mesclada com o trabalho de Mary Virnieu voltado para a preparação do elenco. Amandla Stenberg transmite uma inocência e doçura no olhar que cativam o espectador. Como a protagonista não pode sair de casa, a imaginação se faz presente, principalmente quando se está diante das descobertas do primeiro amor.  A diretora consegue dar ritmo ao filme e transita com segurança quando a imaginação toma conta da tela. O trabalho do jovem Nick Robinson também ganha destaque. Ele possui força quando Olly está em cena e a trama ganha intensidade com a química do casal.
  

O filme reforça a trilha sonora com músicas atuais voltadas para o nicho que a trama propõe , o que torna a narrativa cansativa em determinados momentos. A edição auxilia em dar agilidade e explorar a imaginação da protagonista. Todo o terceiro ato é repleto de clichês, mas o roteiro de J. Mills Goodloe vai além e questiona o espectador sobre os limites do amor. O que você faria por amor? O primeiro amor inocente repleto de experiências mágicas e marcantes é suficiente para tamanho risco? E o que dizer do amor maternal que não conseguimos mensurar? Outro aspecto interessante do roteiro é explorar a tecnologia de uma maneira simples, dinâmica e que se encaixa perfeitamente no universo adolescente.

Tudo e Todas as Coisas poderia facilmente ser uma trama repleta de momentos previsíveis, de certa forma o filme não consegue fugir desse aspecto, mas a maneira como os elementos narrativos dialogam entre si faz com que a temática ganhe proporções maiores. O amor que pode ser sentido de várias maneiras ganha um olhar diferenciado quando é retratado pelas mãos de uma diretora que o torna leve e significativo.





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