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Uma renovação necessária para o gênero (Transtornada Obsessiva Compulsiva)


No gênero comédia, o cinema nacional estagnou na zona de conforto e de tempos em tempos, o espectador pode assistir  filmes inovadores como Shaolin do Sertão. Fato raro, mas ao que tudo indica teremos uma pequena luz criativa no fim do túnel com TOC - Transtornada Obsessiva Compulsiva.

O roteiro escrito a três mãos pelos diretores Paulinho Caruso, Teodoro Poppovick e a atriz Tatá Werneck, não poupa e explora de forma ácida o mundo artístico. Kika K. é uma atriz em ascensão que aparece nos mais variados comerciais e está prestes a ser protagonista de uma novela em horário nobre. Vários aspectos do mundo das celebridades são ressaltados com um humor peculiar. No primeiro ato, o espectador acompanha o cotidiano da personagem no lançamento de um livro de autoajuda que ela se quer escreveu. Além de participar de um programa no melhor estilo Ana Maria Braga, com convidados de áreas totalmente distintas. No segundo ato, Kika questiona o sentido da vida vazia que leva e decide procurar o verdadeiro autor do "seu" livro: 1003 maneiras de ser feliz. 


Como Kika sofre de transtorno obsessivo compulsivo, as crises que a protagonista sente são abordadas no decorrer do filme com uma edição ágil, similar ao filme Anjos da Lei, cortes rápidos de imagens que em um primeiro momento parecem aleatórias e sem conexão com a trama, mas que refletem perfeitamente o caos e pânico da personagem. O atrativo principal de TOC é a abordagem sem pudores, o humor inteligente e o politicamente incorreto. Uma pergunta persiste o filme inteiro: Existe limite para o humor? Para o galã Caio Astro, uma referência direta ao ator global Caio Castro, não existe limite algum, tudo é possível, até ficar excitado por uma personagem que Tatá interpreta com problemas, ela não possui o céu da boca e tem dificuldades ao falar. Uma cena desnecessária e de humor questionável. O que prejudica também a trama é o vilão interpretado por Luis Lobianco. O personagem possui o arco mais previsível e que destoa consideravelmente dos demais. O desfecho de Felipão beira o estereótipo e causa ruído na narrativa.

Quando Daniel Furlan aparece em cena como Vladimir, a trama cresce com diálogos travados de forma seca e direta. O ator acrescenta ao personagem um ar meigo apesar da previsibilidade de algumas cenas. Vera Hultz como Carol está à beira de um colapso tentando lidar com as crises de Kika e a difícil missão de manter a fama da protagonista. A participação de Mário Gomes enriquece o filme.

TOC - Transtornada Obsessiva Compulsiva é a luz no fim do túnel para as comédias brasileiras. Uma narrativa com o humor politicamente incorreto que extrapola em certas piadas, mas apresenta ao espectador uma renovação necessária para o gênero.

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