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Quando duas forças duelam (Rogue One)


Após sair da sessão de Rogue One - Uma História Star Wars, não teria como constatar que o oitavo filme da Saga era voltado para agradar os fãs mais exigentes e ávidos por aguardarem o ano de 2016 para ver o resultado nas telonas. Esse aspecto não é um ponto negativo, porque os detalhes inseridos no filme são minuciosos e atingem em cheio uma legião de seguidores. A questão é deixar por alguns momentos o lado fã que acredita piamente que o terceiro ato deste novo filme basta e compreender que Rogue One possui problemas que podem passar despercebidos pela euforia de termos um filme por ano da Saga. 

A pequena Jyn Erso foi criada por Saw Guerrera até os 16 anos porque seu pai Galen, para atender à exigência do diretor Krennic foi afastado do convívio da filha. O tempo passa e Jyn é resgatada da prisão pela Aliança Rebelde. Galen deixou uma mensagem enviada para Guerrera. Jyn contará com a ajuda do Capitão Cassian Andor e do "simpático" robô K-2SO para ter acesso ao conteúdo da mensagem.

O que o espectador já observou no Episódio VII, aqui fica mais evidente e interessante de destacar. Cada tripulante de Rogue One representa um passo importante e o claro avanço para os padrões Hollywoodianos. No comando temos: britânicos, mexicano, japonês, chineses, americano e uma imensa diversidade cultural. A questão é que juntos a equipe não proporciona ritmo para a narrativa. O primeiro ato é perfeitamente justificável a sensação de um ritmo mais lento para o espectador poder ambientar-se no contexto e ter o devido envolvimento com a trama da "estrelinha" Jyn. Logo no primeiro momento que a protagonista encontra Cassian, a química dos atores não funciona ao ponto do espectador se importar com o que representa a missão. Infelizmente, o trabalho de Jina Jay como diretora de elenco ressalta a falta de ritmo no extenso segundo ato. O que estava presente na trilogia clássica, a identificação que o público criou com os marcantes personagens, em Rogue One a magia do cinema não aconteceu.


Criada a apatia pela tripulação, o roteiro necessitava de um clímax que envolvesse o espectador na trama. Todo o terceiro ato, nos faz lembrar a razão de Star Wars ser tão significativa para o universo cinematográfico. A atmosfera de Rogue One nos ambienta novamente em uma galáxia muito, muito longínqua (para recordar a dublagem do filme de 1977). Os cuidados com os detalhes e easter eggs, até o leite azul ganhou uma menção honrosa, nos transportam e durante os quarenta minutos finais, não esquecemos, mas deixamos um pouco de lado o roteiro raso no arco dos personagens, para desfrutarmos de todos os elementos presentes nos filmes. 

Durante toda a narrativa, minha percepção era voltada para os fãs, por me incluir no pacote, mas algo me incomodava: não estava totalmente satisfeita com os personagens. No começo do terceiro ato fiquei mais envolvida com a trama e quando Darth Vader apareceu pela primeira vez, logo pensei: "A aura do vilão foi mantida." Guardadas as devidas emoções, ao final da participação mais do que especial do vilão, pensei: "O espectador que nunca teve contato com Vader ( como se fosse humanamente possível não saber de quem se trata), agora compreende do que o personagem é capaz. O silêncio, fato cada vez mais raro no cinema, se fez presente. Um compacto dos filmes da trilogia clássica estava diante dos meus olhos. As batalhas todas inseridas de forma intensa, com a trilha sonora no momento certo e a edição tão caraterística da Saga.Como não mencionar robô K-2SO que nos cativa profundamente com sua maneira um tanto quanto sarcástica de tratar os demais? E a forma como a força é sentida por Chirrut ? 

Neste momento, duas forças duelam ao final do texto: meu lado fã ficou emocionalmente tocado com o que viu. Já meu lado crítico, não poderia deixar de ressaltar que um universo tão rico quanto o de Star Wars merecia um roteiro com arcos mais interessantes para os personagens. 

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