Sang-Ho Yeon já havia flertado com a temática após realizar a
animação Seoul Station e fazer um filme abordando uma história similar não foi
tarefa árdua. Invasão Zumbi passa para o espectador a sensação de objetividade
e domínio do diretor. São quase duas horas em que Sang-Ho prende literalmente o
público na trama e o melhor, os zumbis são uma subtrama se compararmos ao arco
dos personagens, o que faz do filme um diferencial perante os demais.
A trama começa com um ritmo lento para ambientar o espectador no
contexto familiar de Seok-woo. O protagonista prioriza o trabalho e deixa em
segundo plano o relacionamento com a filha Soo-ahn. O fato de dar um presente
para a filha poderia ser o indício de aproximação entre eles. Soo observa o que
ganhou, o pai lhe deu algo semelhante recentemente, assim, a pequena constata
que a distância ainda será um obstáculo entre eles. Seok entra em contato com a
empresa onde trabalha e percebe que algo errado está acontecendo. Não tarda
para os noticiários repercutirem que um vírus se alastrou por várias cidades.
Preocupado com a mãe, ele não hesita em telefonar para casa e certificar que
está tudo bem. A voz ofegante falha e sons estranhos surgem. A ligação termina com
o pior e o protagonista começa a compreender a dimensão do vírus.
No começo do segundo ato, o ritmo da narrativa modifica
drasticamente e o espectador observa as adversidades até o grupo específico que
acompanha Seok chegar a estação para pegar o trem de Seoul com destino à
Busan. Um dos aspectos mais interessantes e que proporcionam o ritmo
frenético para a trama é o fato dos zumbis serem extremamente ágeis, em poucos
segundos os ataques são intensos e o caos toma conta do local. As dificuldades
são enfatizadas pelo roteiro que sempre acrescenta subtramas de superação
física e emocional. O filme instiga o público causando empatia pelos
personagens. Como você se comportaria em uma situação limite? Pensaria em
benefício próprio ou ajudaria os demais? Cada personagem tem um momento
importante e contribui ao máximo para estabelecer a empatia com o público.
Todos que ganham destaque deixam uma grande sensação de vazio quando sabemos
que o momento crucial de cada um inevitavelmente irá chegar.
O espaço físico onde passa boa parte da trama insere o espectador
na atmosfera vivenciada pelos personagens. A cada vagão, um conflito é
explorado e o ritmo fica mais intenso gerando tensão. Sang-Ho tem o controle
nas mãos e transmite para o público o domínio do filme ao reforçar a
fragilidade e superação dos coadjuvantes a cada cena. O diretor sabiamente
explora até o teto do vagão ressaltando aspectos fundamentais para a compreensão
do roteiro. Sempre que algo surge como distração para os zumbis, Sang-Ho injeta ao máximo o pouco de calma que o espectador necessita, mas logo a ação
toma conta da tela. O lado cômico explorado pelo roteiro mantém o equilíbrio da
narrativa. Dong-seok Ma proporciona momentos de alívio na tensão e suspense
gerados ao longo da trama.
O leitor poderá associar os conflitos explorados pelo roteiro com
momentos semelhantes presente na série The Walking Dead. Qual situação tomar
quando se chega ao limite? Sacrificar o próximo para salvar a própria vida? O
grande diferencial entre a série e o filme é o ritmo. Enquanto, no seriado, sete anos parecem sete décadas , no filme de Sang-Ho, duas horas são minutos. Invasão Zumbi está muito distante da série que insiste na mesma fórmula. Quem ganha é o espectador .
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