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Uma temática atual com desenvolvimento precário (Nerve)


Quando a introspectiva jovem Vee aceita o primeiro desafio no jogo virtual Nerve, ela precisa beijar um desconhecido em alguns segundos, por mero "acaso", o escolhido é Ian e sua vida ganha outro sentido que foge do tédio juvenil. A partir deste casual encontro, os observadores do jogo instigam o casal propondo novos desafios. Com esta narrativa simplória e atual, a trama de Nerve - Um Jogo sem Regras é apresentada ao espectador . 

O que poderia ser mais um filme inserido no universo adolescente explora outra perspectiva nas mãos da dupla Ariel Schulman e Henry Joost. Ambos conseguem transmitir a energia para prender a atenção do público logo no começo da trama utilizando recursos visuais interessantes e cores vibrantes. O mundo virtual é transportado para a tela de forma criativa, interativa e inteligente. A identificação com comentários instantâneos aos desafios superados é visualizado a todo o momento e nos apresenta uma proposta que será incorporada cada vez mais no cinema : o cotidiano virtual.

A cada desafio aceito e superado pelo casal de protagonistas, uma tecnologia é inserida enriquecendo a trama. Todo desafio deve ser gravado, neste momento, o registro das imagens é bem próximo da realidade de um adolescente que simplesmente quer fazer um vídeo de forma caseira, as cenas não possuem cuidados específicos de fotografia ou luz, todo o processo é extremamente amador para causar a sensação de que o espectador além de ser um observador também está presente no jogo.


Nerve - Um Jogo sem Regras - subtítulo questionável para não fugir do costume nas traduções brasileiras - conta com um elenco competente de coadjuvantes. Emily Meade e Miles Heizer são os estereótipos dos filmes adolescentes, a jovem popular e o nerd que ajudam a amiga em perigo. Apesar de explorados diversas vezes em outros filmes do gênero, os atores conseguem entregar ao público interpretações que agregam positivamente para a narrativa da trama. O que não se pode afirmar do casal de protagonistas totalmente sem química vividos por Emma Roberts e Dave Franco. A cada cena que Vee e Ian estreitam os laços e a relação supostamente poderia ficar mais forte e intensa acontece justamente o oposto. Não existe tensão suficiente que motive o casal para lutar um pelo outro. O filme perde a atração a partir do segundo ato quando ambos necessitam da confiança para continuar no jogo.

Se o aspecto visual é um atrativo para o público, o roteiro deixa a sensação de vazio na história. A motivação fraca com que a protagonista é desafiada pela amiga ao participar do jogo beira o clichê típico do universo adolescente. A garota tímida que tenta provar para todos que não vive na sombra da amiga popular. Os desafios são intercalados com ação e inocência. Roubar um vestido ou pilotar uma moto em alta velocidade com os olhos vendados. A fragilidade do roteiro fica mais evidente no terceiro ato, quando o personagem de Dave Franco explica os motivos que o fizeram entrar no jogo. Uma temática atual e interessante que poderia ser explorada com outro viés sem cair na simplicidade do desfecho utilizado no roteiro.

O filme explora alguns aspectos que podem instigar o espectador mais jovem ao questionar até que ponto somos envolvidos em outra realidade e como os limites são impostos para que se evite consequências mais graves na vida real. Nerve - Um Jogo sem Regras ressalta elementos visuais de fácil identificação com o público juvenil, mas peca no desenvolvimento de um roteiro previsível e precário. 
  

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