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O trash está de volta e veio do mar (Águas Rasas)


Nancy é uma jovem médica que viaja para conhecer o paraíso do qual sua mãe mencionava sempre quando ela ainda estava grávida da jovem. Carlos, um nativo, lhe auxilia com uma carona, mas adverte dos perigos que ela poderá encontrar. No primeiro ato de Águas Rasas, o espectador pode até pensar que está vendo mais um programa de surf destinado para TV paga e o filme realmente apresenta este tom, várias tomadas áreas com o objetivo de explorar a praia paradisíaca da qual não sabemos o nome.

Diversos takes de Blake Lively tentando surfar, a atriz passa boa parte do primeiro ato deitada na prancha, com duas cenas dela realmente surfando. Após nadar literalmente "remando" ao encontro das ondas, a jovem sofre o ataque "inesperado" de um tubarão. O restante do filme é a busca e tentativa da protagonista pela sobrevivência ao lutar contra as adversidades e a ameaça maior que vem do mar.


No segundo ato, o filme deixa de lado as cenas focadas no ambiente e explora a o arco da protagonista. Isolada, ela tenta chegar à margem e as dificuldades encontradas são dignas de um filme trash. Vale ressaltar que este aspecto não é negativo, pois o diretor Jaume Collet -Serra consegue brincar e não camufla em nenhum momento o que entrega ao espectador. A proposta é ser trash com qualidade. Trash no roteiro, logo no começo temos um longo e pobre diálogo de Carlos e Nancy sobre o que fez ela conhecer o local. Um diálogo típico para simplesmente levar os personagens ao destino final, a praia. O roteiro segue firme na proposta inicial e não aprofunda o arco da personagem. A única companhia da jovem é uma gaivota, no estilo Wilson de Náufrago, só que neste caso, infinitamente pior. A ave está com a asa quebrada é Nancy proporciona ao espectador uma verdadeira aula de primeiros socorros. O mesmo acontece quando ela utiliza um pingente e o cordão do colar, uma provável lembrança da mãe, para costurar sua pele do ferimento provocado pelo ataque do tubarão.

No terceiro ato, o aspecto trash ganha força, pois o tubarão retorna mais violento. No melhor estilo Macgyver- Profissão Perigo, a protagonista utiliza de alguns recursos nada convencionais para se livrar do perigo e conseguir ajuda. Neste momento do desenvolvimento da trama, o espectador já viu a tela vermelha de puro sangue diversas vezes e corpos mutilados pelo animal. Algo que também pode atrair e prender a atenção do público, além do suspense previsível motivado pela trilha sonora pouco inspirada são as cenas com diferentes tons de cores vibrantes. O desfecho consegue somente gerar risos no público. O trash ainda ganha destaque na redundância do cartaz de Águas Rasas: "O que estava no fundo, agora está no raso".  A pergunta que fica é : Águas Rasas será lembrado pela tentativa frustrada em gerar suspense no espectador ou a real proposta é não ser levado a sério e aceitar o tom cômico e trash do filme?


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