A história gira em torno da dupla de policiais Ramon Miguel Vargas
e Hank Quinlan. Um carro explode e o personagem de Charlton Heston decide
investigar o que mais adiante será uma trama repleta de reviravoltas, sempre
com a presença do detetive interpretador por Orson Welles. Além da trama muito
bem conduzida pelo visionário diretor, o espectador pode observar vários
elementos pertencentes ao movimento Film Noir que começou em 1941, com o filme
Relíquia Macabra. Todos os elementos característicos do movimento estão
presentes em A Marca da Maldade. Um deles acompanha os personagens durante uma
hora e meia de filme: a fotografia escura. Esse elemento acrescenta à trama o
suspense necessário para envolver o público. Outro ponto de destaque é a ótima
mise en csène, ou seja, com posicionamento dos atores em cena e sua
movimentação podemos identificar facilmente o contrate de luz e sombra bem
característicos dos filmes policiais da época. Podemos acrescentar também
o posicionamento da câmera, muitas cenas são filmadas
a partir dos ombros dos personagens, takes feitos de cima para baixo. Além da
presença forte feminina de Marlene Dietrich e Janet Leigh.
É de fundamental importância no filme, logo no começo da trama, o plano sequência realizado pelo diretor. Os créditos são apresentados ao espectador junto com a trajetória feita pelo casal de protagonistas na rua, onde também podemos ver um carro com explosivos dentro do porta- malas. A sequência dura exatos três minutos e quarenta segundos, só termina com o único corte presente em toda cena, a explosão do carro. Interessante destacar que a câmera de Orson Welles acompanha os personagens com takes aéreos e na mesma tomada da cena, a câmera fica mais próxima dos protagonistas, assim podemos ver diferentes ângulos sem a necessidade dos cortes. É como se o olhar do espectador fosse a câmera e acompanhasse a todo momento o casal. À medida que a história é apresentada, os personagens são desenvolvidos e novos surgem para envolver ainda mais o espectador no suspense proposto.
Após rever este clássico, um aspecto me chamou atenção: a atuação.
Os diálogos eram quase que sobrepostos. Não havia pausa entre
uma fala e outra, o que acrescentava ainda mais tensão e dinamismo nas cenas. A sensação que se tem é que Wells queria que prestássemos
atenção nas falas para compreender o que viria mais adiante. Em vários momentos
temos até cinco personagens em cena, sendo que um deles está refletido em um
espelho ou próximo de uma janela, o que pode ser visto também em Cidadão Kane,
nos apresentando características específicas da autoria do diretor.
A trama proporciona ao espectador as reviravoltas necessárias para
que ele se interesse pelo jogo realizado por Hank Quinlan ao envolver cada vez
mais o policial Ramon Miguel na tentativa de encriminá-lo. No desfecho, Orson
também faz a opção de acompanhar três personagens e trazer o olhar do público
para a cena. A Marca da Maldade é mais um trabalho competente de um diretor impactante. Como diz Marlene Dietrich em sua fala
emblemática no final do filme: "Ele era um homem extraordinário."
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