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Quando o espectador é confundido com o jogador (WarCraft)



Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos carrega duas responsabilidades bem claras: ser um filme visualmente interessante pelos recursos disponíveis e abrir portas para o gênero novamente, (lembrem-se de Street Fighter e afins...) se conseguir agradar tanto os fãs quanto os que nunca tiveram contato com o jogo. No primeiro aspecto, o filme consegue prender o público com efeitos de encher os olhos. Já no segundo, realmente é injusto afirmar que o filme não propõe algo novo, mas neste caso específico, não consegue agradar os dois públicos. É como se o diretor  Duncan Jones, fã assumido dos jogos, não separasse o espectador do jogador. Resultado: o público que também é jogador consegue assimilar várias questões e deixar passar alguns erros do filme, mas o público que não tem conhecimento, realmente fica com a sensação de somente ter passado algumas fases para concluir o jogo.

O filme gira em torno da abertura de um portal que coloca em conflito os dois mundos mencionados no título. Simples assim. O roteiro é basicamente isso mesmo. Vamos aos problemas. Os dois povos que travam as batalhas no decorrer do longa não são igualmente desenvolvidos, principalmente pela escolha equivocada do elenco encabeçado por Travis Fimmel e Dominic Cooper, o Líder e o Rei. Ambos não possuem o carisma e força necessários para que o espectador compre o lado deles na batalha. Fica evidente que mesmo com grandiosos efeitos digitais, os Orcs são mais cativantes, essa razão é também fruto do excelente trabalho de Toby Kebbell como Durotan. Dessa forma, o nível de envolvimento do espectador com os dois mundos fica extremamente desigual. Quem também faz um trabalho de composição interessante é Ben Foster como Meldivh, ele é a peça chave e de fundamental importância para fazer a trama ter momentos significativos.  O ator consegue segurar a ambiguidade do personagem com competência. O destaque feminino fica por conta da atriz Paula Patton que infelizmente não soube aproveitar a oportunidade e deixou sua personagem perder força ao longo do filme. 

Em que momento da trama o espectador vira jogador? Nos momentos de batalha, quando o diretor transforma a tela grande e realmente parece que estamos diante de um vídeo game somente aguardando para ganharmos a fase e seguirmos em frente. A sensação que fica no espectador que escolheu assistir Warcraft para ver um filme de fantasia é que a trama não funciona como história para ser contata, somente para ser jogada. Vários momentos são seguidos de pausa, como se o filme fosse editado nos moldes do game. As fases passam assim como as cenas diante dos olhos do espectador somente para ter uma função específica e não para proporcionar o ritmo e agilidade para a trama. O público em alguns momentos percebe que está assistindo um filme e não jogando somente quando a história ganha um viés mais dramático para o protagonista, onde uma perda significativa o faz ganhar mais sentido dentro das batalhas e a trama rende em conflito e dinamismo.  

Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos funcionaria bem como um jogo, mas como filme não dialoga com o espectador. O desfecho deixa em aberto a questão de uma sequência, mas é necessário que o diretor consiga ver no próximo filme  o espectador como público comum e não somente como jogador. 






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