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No lugar da caneta, a pipoca!!!


Instigada pelo meu irmão, Paulo de Tarso, que me chamou literalmente de chata por escrever sobre filmes visando achar algo ruim neles, certa vez, ele indagou: " Todos os textos que leio, você sempre coloca um mas. Você é uma espectadora? Tudo bem, você é crítica, mas espectadora tem um bom tempo que você não é." Após refletir sobre o que foi mencionado, eu pensei que ele tem uma parcela de razão. Faz muito tempo que não assisto um filme sem escrever sobre ele. Meu olhar realmente é diferenciado, não só porque já fiz alguns cursos sobre história do cinema e críticas, mas também porque desde pequenina, já com meus oito anos de idade, eu sabia que não veria mais os filmes com o mesmo olhar.

Como todo domingo faço minha crítica de um filme presente no acervo do Netflix, hoje resolvi voltar ao passado, mais exatamente no ano de 1990, que vivi a minha experiência tão marcante com o cinema e ser espectadora novamente. Eu tentei. Foi quase impossível. Confesso que cai em tentação por vários momentos, mas de um modo geral posso garantir que consegui reviver a experiência, ou pelo menos boa parte dela, com o Clássico Três Homens em Conflito, do cineasta italiano Sergio Leone. 

Pode surgir a pergunta : Paula , como você se diz cinéfila e ainda não viu este marco do cinema? Pois é, caro leitor, esta relíquia estava há anos literalmente engavetada na minha coleção. Uma pena que fui postergando a oportunidade, mas o momento não poderia ser mais oportuno, pois simplesmente me deixei levar pelo filme. Foi realmente um turbilhão de emoções, bem próximo do que senti vendo pela primeira vez ao E.T. Somente com uma pequena e grande diferença: a maturidade. Se com o filme de Spilberg tinha meus oito anos, hoje com trinta e quatro, meu olhar foi diferenciado. Mas a relação com o cinema realmente é algo inexplicável e logo me vi com oito anos novamente. Estava encantada com os três protagonistas e seus conflitos, para não deixar de usar o trocadilho infame, com o título mais infame ainda que o filme recebeu aqui no Brasil .  

Logo no começo, minhas mãos queriam deixar a pipoca e as balinhas de lado, no impulso, quase troquei o milho pelo papel e caneta. Força do hábito falando mais alto. Como foi bom ter as mãos livres e assim apreciar a obra prima de Sergio Leone, mas agora posso afirmar sem pestanejar que já tinha visto muitas referências ao trabalho do diretor nos filmes de Tarantino. O que ele fez com Oito Odiados foi apresentar para a nova geração muito de Leone. Enfim, mesmo sem saber, já tive contato com o universo do diretor italiano.

O filme começou e com meu olhar fixado na tela da TV. Fiquei encantada pela forma do diretor ao apresentar os protagonistas. O tempo foi passando e as emoções só aumentavam diante dos meus olhos. Faz um bom tempo que não aprecio um personagem carismático e logo entrou em cena Tuco (Eli Wallach). O roteiro brinda o personagem com as melhores falas. Quando ele afirma: "Um safado entra, outro sai." Como espectadora , Tuco já ganhou lugar certo na lista dos meus personagens mais queridos da sétima arte. Sempre com um sorriso no rosto, eu pensava: "O filme vai ser todo dele". E logo em seguida : " Mas o roteiro ajudou bastante." Era o lado crítica falando mais alto. Metade do mérito vai para os roteiristas: Age - Scarpell, Luciano Vincenzoni e Sergio Leone. E a outra parte vai para Wallach que deu a ênfase necessária nas falas para o humor atingir o espectador.  
  


Como falar do filme e não fazer uma crítica sobre? É complicado porque o olhar já está apurado, mas tentei ao máximo deixar meu lado crítico de lado e mergulhei cada vez mais como uma espectadora diferenciada e apreciava a jornada dos protagonistas. O filme tem suas três horas que passam como num piscar de olhos. Três Homens em Conflito é uma verdadeira aula cinematográfica. Personagens ricos, roteiro impecável e direção segura que influenciou muitos ao longo dos tempos. Mas outro nome importante é o de Ennio Morricone que marca a trajetória do trio ao longo de toda a trama. Claro que a música tema vai me acompanhar durante um bom tempo, especialmente como toque de celular.

O final estava próximo porque já tinha visto a cena em alguns cursos de história do cinema. Uma mistura de tensão e tristeza, pois a cena do desfecho da trama é de deixar qualquer espectador na ponta da poltrona. A tensão na troca de olhares dos protagonistas e a trilha sonora fazem a cena ser um marco para a sétima arte. Cada personagem com seu desfecho que cabe perfeitamente com os detalhes vistos ao longo da trama. II Buono, il Bruto, il Cativo, o nome original do filme, me fez voltar a ser a espectadora que trocou a caneta pela pipoca e me proporcionou o que a magia do cinema tem de melhor: envolver o espectador e transforma-lo de alguma forma. Aconteceu em 1990. Aconteceu em 2016. E acontecerá novamente.   


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