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A riqueza está na dualidade dos personagens (Mundo Cão)


O mais recente filme do diretor Marcos Jorge, Mundo cão, nos mostra a trama da família de Santana (Babu Santana) que vive um dia- a- dia corriqueiro do trabalho e de noite coloca os filhos para dormir. O decorrer da história passa no ano de 2007, onde o sacrifício de cães abandonados ainda era permitido. O protagonista, funcionário de um Centro de Controle de Zoonoses, sacrifica o cão de Paulinho (Lázaro Ramos), assim a trama ganha um contexto diferenciado de suspense com toques de humor. 


O destaque principal de Mundo Cão são os protagonistas e suas dualidades. Todo ser humano carrega dentro de si o bem e o mal, onde um dos lados ganha mais evidência. Babu possui um tipo físico forte, mas seu personagem é extremamente doce e sensível. Já Lázaro é mais intenso e de índole questionável, mas que por diversas vezes na trama transmite fragilidade. Essa dualidade percorre os personagens durante boa parte da trama, o que intensifica a empatia com o espectador. Não existe mocinho e bandido, e sim, pessoas colocadas à prova quando confrontadas com determinadas situações extremas. 

Somos o fruto direto do nosso contato com o mundo exterior e tudo que ele nos proporciona. Marcos Jorge certamente teve como referencia filmes de Juan José Campanella e Denis Villeneuve. A medida que a trama ganha corpo, O Segredos dos Seus Olhos vira fonte direta e a importância de determinados objetos focalizados constantemente dão um toque de Os Suspeitos, o que só acrescenta e ressalta os aspectos positivos de Mundo Cão. 


A trama perde força principalmente pela trilha sonora que tenta induzir sentimentos no espectador. A edição com vários cortes remetendo ao universo dos quadrinhos e as telas pretas fazem a história perder o ritmo que o suspense necessita. As atuações dos adolescentes também não ajudam e ressalta a naturalidade dos personagens. Quando estão na mesma cena com atores mais experientes, o desequilíbrio é nítido prejudicando assim o tom dramático de Mundo Cão. Adriana Esteves está bem caricata e Milhem Cortaz está totalmente deslocado na trama. 

Mundo Cão é um filme sobre a dualidade do ser humano que peca pelos excessos e por uma direção pesada, onde a atmosfera da história já transmite toda a intensidade do suspense necessária para compor o destino dos personagens. Os mínimos detalhes fazem a diferença , mas não são conduzidos de maneira eficaz deixando o espectador sempre um passo à frente da história



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