Interessante perceber os rumos atuais do cinema nacional,
histórias com o intuito de explorar as relações de pais e filhos. É o caso
específico de O Último Cine Drive - in , do diretor Iberê Carvalho. O
jovem Marlombrando retorna à Brasília para acompanhar o tratamento de sua mãe
Fátima. Além da dificuldade estabelecida na luta diária materna contra o câncer
, o maior obstáculo vivido pelo personagem é lidar com o convívio paterno,
Marlom não perdoa o pai pelo abandono da família há oito anos e agora necessita
estar junto com esta figura que lhe causa estranheza.
O destaque do filme fica por conta do elenco competente. Breno
Nina consegue equilibrar o personagem com sensibilidade e rispidez necessárias
para as cenas mais fortes do embate entre pai e filho. Apesar de algumas cenas
serem por demais teatrais, o tempo entre uma fala e outra prejudica o ritmo em
determinados momentos, mas nada que resulte em algo negativo para o conjunto da
trama. O embate de pai e filho são os pontos altos do filme, Othon Bastos
está intenso e consegue explorar como poucos atores a dualidade do personagem.
Necessita ser contido no começo pois não conhece devidamente o filho e aos
poucos sua relação ganha aspectos de confiança e o laço paterno torna-se mais
forte.
É preciso destacar os coadjuvantes que só enriquecem a história.
Zé, interpretado por Chico Sant'Anna, nos traz leveza e a veia cômica que o
filme necessita. Suas cenas nos fazem querer saber mais sobre a vida do
personagem e servem de elo para a união de Marlom e Almeida. Outro personagem
essencial é Aldo que faz as cenas filmadas no hospital serem mais
dinâmicas.
O que deixa o filme mais difícil são as cenas
desnecessárias, no caso da mãe do protagonista cantando no corredor do hospital
e Marlom retornando para a capital de moto. Prejudicam o contexto e o andamento
do filme pois ficam soltas na história, não acrescentam no todo. Alguns
personagens fazem somente pontas e também não são necessários no decorrer da
trama.
Claro que o pano de fundo do filme é tão importante quanto a
relação entre pai e filho. Uma bela homenagem à sétima arte, ao retratar a
realidade vivida na capital, onde o último cine drive-in do país poderia
fechar. A luta de Almeida para salvar o local é mesclada com a paixão que o
mesmo sente pelo cinema. Interessante a cena em que ele debate com um amigo os
rumos atuais da indústria e até estranha a utilização da tecnologia, não
consegue entender a necessidade do óculos 3D. Um filme que desde do começo sabemos como irá acabar, mas sua
jornada de reencontros e a bela homenagem ao cinema, nos faz compreender que o
previsível pode ser interessante ao nossos olhos.
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