Pular para o conteúdo principal

No melhor jogo de gato e rato (Garota Exemplar)

O mais recente filme de David Fincher, Garota exemplar, conta a história do desaparecimento de Amy Dunne  (Rsamuond Pike ),  no dia de comemoração do quinto aniversário de seu casamento com Nick Dunne (Ben Aflleck).  Logo no começo surge a pergunta: eu já vi esse filme antes? Policiais buscando evidencias para prender o principal suspeito, mas estamos falando de David Fincher, então podemos facilmente afirmar que não se trata de mais um mero filme policial. É mais um filme “exemplar” de David Fincher.

O casal de protagonistas consegue levar a história com competência. Eu realmente nunca imaginei que fosse dizer isso de Ben Aflleck, sim, ele está perfeito no papel porque em determinados momentos da trama, por sua mulher ser  conhecida e adorada pelo público, ele precisa manter as aparências para a mídia, sendo muitas vezes, o bom e velho canastrão de sempre. Dessa maneira, o papel caiu como uma luva para Aflleck, e o diretor soube explorar ao máximo esse viés do personagem. Já Rsamuond Pike está ótima, no papel que pode elevar seu status em Hollywood, agora é preciso ver que não temos mais um rosto bonito na tela, o que é necessário para a personagem, mas a atriz sabe que tem um papel rico em detalhes e nuances fundamentais para o desenrolar da trama. Os atores coadjuvantes  também estão interessantes em seus papeis. O fato do diretor não cair em chiclês e escolher uma mulher para estar à frente das investigações só acrescentou a trama. A irmã gêmea de Ben Aflleck consegue carregar a dramaticidade necessária para o contexto da situação. Ben Aflleck precisa ser frio e calculista para desvendar as pistas deixadas pela esposa e no lado oposto, a irmã sofre com mais intensidade as consequências vividas pelo irmão. 

 

Outro aspecto interessante e um dos destaques da trama é a crítica aos meios de comunicação ao retratarem o caso. Claro que toda história possui dois lados, mais e se a mídia centralizar e com uma dose cavalar de sensacionalismo, reflexo do jornalismo atual, enfatizar somente um lado ? Assim, o filme evidência esse aspecto, pois o público (espectadores dos programas televisivos) já tomou para si um culpado. Cabe ao protagonista desvendar os mistérios revelados aos poucos na trama e reverter o jogo para o seu lado. Se é sensacionalismo que eles querem, por que não utiliza-lo em seu favor? E dessa forma, não temos mais um suposto culpado pelo desaparecimento da esposa  e, sim, um marido que cometeu erros e que está profundamente arrependido.

David Fincher prova que consegue dar ao espectador um verdadeiro jogo de gato e rato. Onde, ele no comando, como um rato, esconde as evidencias e aos poucos consegue envolver o gato, o público, instigando a encontrá-las . O diretor consegue dar ao público as doses certas de suspense e não fazer de Garota Exemplar mais um filme policial feito nos moldes e padrões de filmes do gênero. Um filme que nos faz pensar: é por ele que gostamos tanto do que chamamos de sétima arte.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d