Pular para o conteúdo principal

O melhor do ano? (A Separação)


Quando um filme é ruim torna-se mais fácil e até divertido descrever sobre a sucessão de equívocos do conjunto da obra, mas quando a situação é contrária, ficamos um bom tempo tentando ao menos começar, com a intenção de não deixar passar nenhum detalhe. É o caso específico de , A Separação, do diretor iraniano Asghar Farhadi. Vou parafrasear alguns críticos e dizer: “A Separação é o melhor filme do ano”. Entendo a empolgação de certos colegas, concordo com tamanha euforia, pois é cada vez mais raro assistirmos a um filme tão belo e necessário, mas é preciso cautela. O ano está só começando e um certo homem morcego está por vir (não podemos comparar, afinal, são gêneros distintos, mas Batman : O Cavaleiro das Trevas Ressurge pode surpreender) ...

Vamos ao filme! Logo no começo, somos convidados a participar de uma trama aparentemente simples (a separação de um casal), mas ao mesmo tempo complexa por levantar questionamentos éticos, morais e religiosos. Temas que poderiam ganhar proporções extremamente dramáticas nas mãos de outro diretor, mas Asghar Farhadi conduz a narrativa de determinada forma que não pensamos em julgamentos, somente nos colocamos na pele de cada personagem, com suas angústias e o efeito dominó que os problemas causam na vida de duas famílias ligadas aparentemente pela dúvida.


Um dos principais méritos do filme (são vários) é o roteiro apresentado aos poucos, um ato que nos parece banal (um simples empurrão) ganha proporções irreversíveis, dessa forma, a trama torna-se mais envolvente e principalmente intensa, graças a interpretação de todo o elenco, em especial, do protagonista. Pelo turbilhão de emoções que Nader passa no decorrer da trama, Peyman Moaadi consegue a proeza de conduzir um personagem centrado no olhar, que envolve o público e nos faz questionar: Não é possível, com tamanha pressão, como ele consegue fazer piadas com sua condição? Vale ressaltar uma das cenas mais tocantes do filme, onde o personagem não suporta a situação e chora nos ombros do pai, ao mesmo tempo em que lhe dá banho, demonstrando assim uma sutil fragilidade. Afirmar que A Separação é o melhor filme do ano pode ser precipitado, mas é um forte candidato para tamanha façanha.

Comentários

Paulo de Tarso disse…
"Vou parafrasear alguns CRÍTICOS e dizer: “A Separação é o melhor filme do ano”. Entendo a empolgação de certos COLEGAS(...)" ta demais heim...

Postagens mais visitadas deste blog

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...

O Mito. A lenda. O Bicho-Papão. (John Wick : Um Novo Dia Para Matar)

Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com companhia somente um cachorro e um carro. Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa. Logo na primeir...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...