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O verdadeiro contador de histórias




Parafraseando o título do filme de 1994, Forrest Gump - O Contador de Histórias, depois que tive a oportunidade de assistir alguns filmes de Clint Eastwood exercendo a função como diretor acredito que ele, sim, é o verdadeiro contador de histórias. Clint possui uma característica rara entre os diretores, a simplicidade em conduzir a trama. Se Forrest Gump tinha sua maneira toda particular de cativar os que sentavam no banco do ponto de ônibus, Clint consegue cativar o espectador que senta na poltrona do cinema. 

Cartas para Iwo Jima retrata um período específico da Segunda Guerra Mundial, onde os Estados Unidos e o Japão travaram uma batalha com o intuito de dominar a Ilha de Iwo Jima. O filme, A conquista da Honra (2006), também de Clint, aborda o tema com o enfoque voltado para a visão dos americanos sobre o fato histórico. Por ser uma temática extremamente pesada, o diretor apresenta os personagens de maneira delicada com o objetivo de suavizar a trama. Outro ponto interessante é a fotografia com paleta de cores frias ao explorar determinadas cenas de confronto com o auxilio da trilha sonora pouco utilizada, mas precisa e eficiente. O diretor propõe um convite ao espectador: “Quero lhes contar uma história, não tenho pressa!”. Os filmes de Clint Eastwood possuem a tendência em explorar a dramaticidade dos personagens com certo exagero Hollywoodiano, mas assim como fez em Gran Torino ao tratar o preconceito com humor, Clint também utiliza esse recurso em Cartas para Iwo Jima, a cena do pinico é um alívio para o espectador.


Outro aspecto interessante é a questão da trama ser retratada em uma caverna, (esta serve como proteção para os Japoneses) algo que poderia prejudicar a narrativa, mas ganha destaque devido aos ângulos explorados em determinadas cenas. Não há julgamentos como em outros filmes de guerra, a base são as histórias escritas nas cartas. Clint consegue retratar em seus filmes as angústias vividas pelos personagens, com destaque para a cena de suicídio coletivo, conduzida de forma bela e poética. No livro, O feitiço do cinema- Ensaios de Griffe sobre a sétima arte, de Juan Droguett e Flávio Andrade (organizadores), Bernardo Bertolucci afirma que: “O prazer proporcionado pelo cinema é gerado quando se estabelece comunicação entre aquilo que o diretor ou produtor faz e aquele que o recebe ou percebe”. Clint Eastwood pode ser considerado um verdadeiro contador de histórias, pois consegue a difícil arte de estabelecer essa comunicação com o espectador.

Comentários

Paulo de Tarso disse…
Não gosto de textos muito técnicos sobre filmes. Parece que a pessoa escreve só para os entendidos, quando na verdade deveria escrever p todos....
Paula Biasi disse…
Podemos sempre aprender com os termos técnicos 😉

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