Frieza interna e externa. Árvores secas. Ausência de folhas. Somente galhos sem vida. É o perfeito reflexo da relação entre Zhenya e Boris. A vida da protagonista é virtual e o marido mergulha no cotidiano e tédio do trabalho. Como se não bastasse a distância física, Boris precisa manter o casamento para permanecer no emprego. O chefe não aceita funcionários divorciados, o que torna a relação insustentável. Alyosha, o filho adolescente do casal, não retorna para a casa e uma "fria" preocupação abate ambos.
Sem Amor incomoda o espectador ao longo de toda a narrativa. É constante a sensação de indignação pelo posicionamento dos pais com relação ao filho. O roteiro é direto e bruto. Os personagens não poupam palavras para destilar todo o ódio que sentem um pelo outro. Alyosha está imerso no turbilhão de ofensas. Não é por acaso que o jovem desaparece no final de primeiro ato. Ele é o único personagem que esboça sentimentos e sua ausência se faz necessária para ressaltar ainda mais a frieza dos personagens. Com o desaparecimento do filho, o casal precisa do apoio um do outro, mesmo que seja para enfrentar a dura realidade. Com a aproximidade do casal, o espectador também se envolve na trama. Cenas impactantes impressionam pela gradação da frieza dos personagens.
A paleta de cores frias distância os personagens e provoca a dicotomia de sentimentos. Mesmo que os protagonistas tentem reviver e ter algum tipo de relacionamento com novos parceiros, a tentativa é frustrante. O ato sexual transparece ainda mais a distância e vazio de Boris e Zhenya com os atuais companheiros. O momento catártico é reforçado pela violência física e verbal. Um resquício de culpa toma conta dos pais que procuram o filho na ausência de esperanças. O que aumenta ainda mais a atmosfera fria de Sem Amor.
O diretor Andrey Zvyagintsev proporciona planos centralizados dos personagens mesclando com a paisagem e neve externas. Takes próximos do rosto destacam a ausência de sentimentos. A inércia presente nos personagens incomoda o espectador e com o auxílio da câmera de Andrey, a trama fica mais intensa pelo total distanciamento de todo o elenco. O momento marcante e repleto de sentimentos é quanto o jovem Alyosha chora escondido com o som propositalmente abafado. O sentimento é contido onde não existe mais amor.
Sem Amor é um filme intenso pela câmera de Andrey que transmite e reforça o distanciamento dos personagens. Os atores expressão na ausência de sentimentos o incômodo necessário para o espectador. O roteiro reforça questionamentos e impacta pela frieza dos diálogos. O filme explora o incômodo de seguirmos a vida sem amor.
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