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Mostrando postagens de junho 11, 2017

O domínio do filme e espectador (Frantz)

Poucos diretores conseguem tem o domínio de todos os elementos narrativos dentro da trama. Um dos que se destaca nesse aspecto é  Ozon que consegue envolver o espectador logo nos primeiros minutos de seus filmes. O mais recente trabalho de Ozon é o drama, com uma atmosfera clássica, Frantz. O filme se passa no pós-guerra, em 1918, entre dois países: França e Alemanha. A trama é centrada em dois protagonistas: Anna e Adrien. A jovem o encontra parado em frente ao túmulo de Frantz. Logo o personagem começa a preencher o vazio da família que teve o filho único morto no front de guerra. François tem o domínio da mise-en-scène e explora todas as possibilidades dentro de um perfeccionismo que enriquece a cada cena a narrativa. No primeiro ato, o diretor enquadra o cenário com uma linguagem mais teatral. A movimentação dos atores dentro da casa e ao conversarem entre as refeições de forma anestesiada pela dor refletem gestos teatrais. Com vários takes e closes no casal de protag

A vida como ela é (Paterson)

Paterson é um filme que explora o cotidiano de um jovem casal mergulhado na rotina. Essa rotina poderia tornar o filme enfadonho, mas o diretor Jim Jarmusch consegue elevar a trama de forma poética e repleta de aproximação com o espectador. Acompanhamos uma semana na vida de Paterson que para fugir das frustrações de um trabalho metódico,  alimenta o desejo de ser poeta. Todos os elementos que estão ao seu redor servem de inspiração para a escrita. O encontro casual com uma garota que compartilha as mesmas pretensões artísticas, um cantor que esboça uma música esperando a roupa lavar ou a esposa Laura que vive sem um rumo certo na vida. O diretor envolve o espectador com cenas repetidas, mas que se encaixam perfeitamente no cotidiano do protagonista. Repetir um ritual de passear com o cachorro e sempre tomar a mesma bebida no mesmo bar. Olhar no relógio enquanto dirige para ver se a hora passa mais depressa. Deixar de realizar sonhos para ver a felicidade da pessoa que co

Atitudes extremas são justificáveis por amor ? (Tudo e Todas as Coisas)

Tudo e Todas as Coisas é um filme de nicho. Voltado para o público adolescente, a trama explora o cotidiano limitado de Maddy, uma jovem que não pode sair de casa devido a uma doença rara, a  Síndrome da Imunodeficiência Combinada, que a faz ter contato com poucas pessoas. Com a chegada de Olly, um novo vizinho, o primeiro amor torna-se inevitável.  O primeiro ato da trama pode causar a impressão que o espectador está diante de mais um filme previsível. Ele não deixa de seguir certos padrões voltados para filmes com temática adolescente, mas a trama consegue ir além do óbvio. Como a protagonista vive em um espaço limitado, o cuidado da direção de arte fica evidente em cada aspecto do cenário. A casa de Maddy ganha estruturas futuristas. Tudo é extremamente alinhado e arquitetado, reflexo do comportamento e proteção materna. Outro elemento narrativo importante para compor a personalidade da protagonista são os figurinos. Todos em tons claros para dar um ar de leveza para Madd

Peças soltas de um quebra - cabeça (Neve Negra)

O cinema argentino proporciona ao espectador filmes excelentes e tramas, quando bem conduzidas, de qualidade primorosa. Infelizmente, Neve Negra, do diretor Martin Hodara, não se encaixa nesse contexto. A trama possui todos os elementos para uma narrativa envolvente, mas não proporciona o envolvimento necessário ao público. Como um quebra- cabeça, as peças deveriam se encaixar aos poucos, porém, o que se observa são peças soltas que distanciam a cada ato o espectador da trama.  Com a morte do pai, Marcos tenta adiar o inevitável: reencontrar o irmão Salvador e acertar desavenças do passado que deseja esquecer. Logo no começo do primeiro ato, a trilha sonora de Zacarías M. Riva proporciona ao espectador a primeira peça que não se encaixa no quebra-cabeça. A trilha acompanha a narrativa por diversos momentos. Fica nítido a intenção do compositor em envolver o espectador proporcionando a atmosfera de tensão que o filme necessita, mas o resultado é justamente o oposto. O elemento